Folha de S. Paulo


Drone fecha Congonhas por 2 h, afeta voos e complica rotina de passageiros

Martha Alves/Folhapress
Após acidente no aeroporto de Congonhas (SP), passageiros esperam seis horas em fila para remarcar voo.
Passageiros esperam em filas para remarcar voo em Congonhas

A presença de um drone causou o fechamento do aeroporto de Congonhas, em São Paulo, para pousos e decolagens na noite deste domingo (12).

O problema começou por volta das 20h15 e levou ao cancelamento e desvio de voos para outros terminais dentro e fora de São Paulo. As operações foram retomadas às 22h30, e o aeroporto ainda recebeu voos até 1h desta segunda-feira (13) –em dias normais, as atividades são encerrada às 23h.

As polícias Militar e Federal foram acionadas para tentar localizar os responsáveis pelo dispositivo, mas nada foi encontrado até o momento. As investigações sobre o caso estão sendo conduzidas pelo Decea (Departamento de Controle do Espaço Aéreo).

Quem usar drones de forma indevida pode responder a processos administrativo, civil e penal –em maio deste ano, a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) aprovou regulamento para a operação desses equipamentos no Brasil.

Atualmente, alguns drones são equipados com sistema de GPS que informa ao operador que a área sobrevoada é restrita e não pode ser utilizada para voo. Há modelos, no entanto, que podem ser construídos sem esta tecnologia.

Por meio de nota, o Centro de Comunicação Social da Aeronáutica afirmou que, "de acordo com a legislação vigente, os voos de drones são proibidos em uma distância mínima de 9 km do aeródromo, incluindo as zonas de aproximação e de decolagem. Mesmo assim, fora dessa área, há necessidade de autorização do Decea para realização do voo".

Segundo a Infraero (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária), 34 voos foram alternados de Congonhas para outros aeroportos do país. No balanço divulgado às 9h, havia oito voos com atraso e dois cancelados –cenário comum para uma segunda-feira.

De acordo com a companhia GOL, 15 voos chegaram a ser desviados para outros terminais, mas tiveram mantida a chegada a Congonhas pela extensão do funcionamento do aeroporto ao longo da madrugada. A empresa informou ainda que outros dois voos que partiriam de Congonhas, para Uberlândia e Presidente Prudente, saíram de Guarulhos, para onde os passageiros foram levados por terra.

A Latam afirmou, por meio de nota, que 28 voos foram afetados, sendo 16 cancelados e 12 remetidos a outros terminais, como Cumbica, Confins, Galeão e Ribeirão Preto. "Os passageiros dos voos alternados para São Paulo seguirão para o destino final via terrestre. Os voos alternados para outras localidades terão as aeronaves reabastecidas para retornarem ao destino final", disse a companhia.

CANSAÇO E INCERTEZA

Passageiros que estavam em voos afetados falaram à Folha sobre o cansaço e a incerteza geradas pelo fechamento temporário de Congonhas devido ao drone.

O consultor de marketing Leandro Schulai estava no voo 1463 da GOL, que ia de Brasília a Congonhas, mas foi desviado para o Galeão, no Rio de Janeiro, e só chegou a São Paulo na madrugada de segunda-feira.

"Era para chegar às 22h40 [de domingo]. Dormi durante o voo e quando acordei eu me assustei, porque vi que ninguém deixava a aeronave. Foi quando o comandante comunicou que estávamos no Rio. Outros passageiros disseram no meio do voo que ele seria realocado para o Galeão devido a um drone na região de Moema [bairro próximo a Congonhas]", contou.

Vindo de Macapá, de onde embarcou ainda na manhã de domingo, ele só desembarcou em Congonhas por volta da 1h desta segunda, com a extensão do funcionamento do aeroporto. "Tudo por irresponsabilidade de uma pessoa que operou um drone de forma inconsequente", disse Schulai, que vive na região de Vila Prudente, na zona leste, e levanta às 7h para trabalhar na avenida Luís Carlos Berrini, na zona sul.

"No avião disseram que precisavam esperar a polícia interceptar o drone ou, pasme, esperar a bateria acabar", contou a psicóloga Verônica Stasiak. Ela estava no voo 1145, que partiu de Curitiba às 20h45, já com atraso de quase uma hora. A espera de autorização para o pouso em Congonhas também demorou tempo similar, ocorrendo às 22h57.

O relações públicas Fernando Nascii, que vinha de Florianópolis, foi outro passageiro que teve a programação afetada pela presença do drone. "Era para termos chegado às 20h15, mas por conta do ocorrido desviaram o voo para Ribeirão Preto [a 313 km de São Paulo, onde o avião foi reabastecido]. Isso após umas duas horas taxiando sem ter certeza do que estava acontecendo. Chegamos em Congonhas apenas às 0h30. Foi extremamente cansativo."

*

Entenda as regras para drones

Anac regulamentou o uso desses dispositivos em maio

QUEM REGULA

- Anac (Agência Nacional de Aviação Civil)
- Decea (departamento de controle aéreo da Aeronáutica)
- Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações)

-

ONDE ELES PODEM VOAR

Distâncias permitidas
O dispositivo não pode voar sobre pessoas que não estejam cientes ou envolvidas com a sua operação. O limite de aproximação do drone de alguém ou de algum prédio é de um raio de 30 metros (horizontal). Ficam de fora dessa regra os "minidrones", com menos de 250 gramas

Lugares proibidos
Refinarias, plataformas de exploração de petróleo, depósitos de combustível, penitenciárias e áreas militares não podem ser sobrevoados sem autorização prévia. Além disso, deve haver uma distância de 5 km de redes elétricas, usinas energéticas, redes de comunicação ou radares de vigilância aérea

Distância de aeroportos
Para voos de até 100 pés (30 metros), o drone deve ficar a pelo menos 5,4 km de aeroportos ou da rota de aeronaves. Para voos entre 100 e 400 pés (30 a 120 metros), a distância deve ser de no mínimo 9 km, em média. Voos mais próximos do que isso ou dentro de aeroportos só são possíveis com permissão da Aeronáutica

-

FISCALIZAÇÃO

Tecnologia antidrone
Aertoportos brasileiros não têm tecnologia de detecção de drones. Como a popularização dessas aeronaves é um fenômeno recente, aeroportos no mundo ainda tentam se adaptar à nova "ameaça"

Sanções
Quem usar drones de forma indevida pode responder a processos administrativos, civis e penais, além de estar sujeito a multas. A identificação dos pilotos, porém, ainda é uma dificuldade

-

REQUISITOS E DOCUMENTOS

Idade
Para guiar um drone é preciso ter mais de 18 anos

Licença
Piloto precisa ter uma autorização da Anac para guiar dispositivos com mais de 25 kg ou em altitudes superiores a 400 pés (122 metros)

Registro
Aparelhos com mais de 250 gramas têm que ter registro na Anac; até os 25 kg, só é preciso um cadastro on-line

Seguro
Donos de drones acima de 250 gramas devem ter apólice de seguro com cobertura de danos a terceiros

Responsabilidade
Piloto só pode iniciar operação do drone se ele tiver bateria suficiente para fazer o voo e retornar à sua base em segurança. Além disso, o operador deve avaliar o risco do voo e não pode estar bêbado ou sob efeito de substâncias psicoativas


Endereço da página:

Links no texto: