Folha de S. Paulo


Arlindo Antonio da Silva (1920-2017)

Mortes: Pela mulher, largou a música sem arrependimentos

Homem simples, criado na roça, Arlindo trabalhou até os 85 anos como pintor. Usava um chapeuzinho feito de jornal para proteger os cabelos da tinta. Com seu jeito descontraído, cativava todos que o conheciam, de amigos dos filhos a vizinhos, com quem ia pescar.

Apaixonado por chorinho e samba, quando jovem tocava, nas horas vagas, cavaquinho em um grupo em São Paulo. Era a década de 1940, e ele era um entusiasta de músicos como Noel Rosa e Adoniran Barbosa.

A boemia, no entanto, parava por aí. Não era de beber muito ou de ficar fazendo farra. Seu negócio era a música.

Até que em um baile da Vila Zelina, onde morava, conheceu uma descendente de italianos que arrebatou o seu coração, Concheta. Na hora em que a viu, soube: "É essa".

O namoro prosperou, mas havia um grande adversário –eram outros tempos, e o pai de Concheta era um italianão que não gostava nada de a filha namorar um músico.

Arlindo então tomou uma decisão. "Seu Chico, se eu casar com a sua filha eu vou deixar a música." Conquistou o sogro e, daí em diante, foram 64 anos de casamento, até a morte dela em 2014.

Dentre oito genros, Arlindo tornou-se o preferido. Nos anos finais de vida do sogro, chegou a dar banho no senhor, que, debilitado, aguardava o pintor chegar do trabalho.

Nunca reclamou da decisão que tomou, foi uma opção consciente, por amor. Partiu para reencontrar sua Concheta no último dia 26, aos 96, após uma pneumonia e uma infecção urinária. Deixa os filhos Arlete e Norival, dois netos e dois bisnetos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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