Folha de S. Paulo


Polícia e Forças Armadas cercam favelas no Rio após morte de coronel

As forças policiais do Estado do Rio de Janeiro deflagraram, por volta das 3h desta sexta-feira (27), uma operação nos morros do São Carlos, Zinco, Querosene e Mineira, no centro da capital fluminense.

A ação tem apoio das Forças Armadas, que estão desde o final de julho no Rio para reforço na segurança pública.

Segundo a assessoria do CML (Comando Militar do Leste), 1.700 militares e dez carros blindados das Forças Armadas participam da operação, com cerco aos principais acessos –sem contar os efetivos das polícias Civil e Militar.

Ruas da região estão interditadas e o espaço aéreo está controlado, com restrições para aeronaves civis. A ação não está influenciando o tráfego nos aeroportos.

As forças de segurança fazem duas grandes operações –uma no centro e outra na zona norte– um dia após o assassinato do coronel Luiz Gustavo de Lima Teixeira, 48.

O cerco em favelas do centro, contudo, não tem relação com a morte: o objetivo é capturar criminosos que teriam participado da tentativa de invasão da favela da Rocinha no mês passado. Os militares foram recebidos a tiros já na madrugada, ainda que não tenha havido registro de feridos dos dois lados. Ao menos 20 pessoas foram presas, todos supostos criminosos.

Há a suspeita de que quatro dos presos faziam parte do grupo de Antônio Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha, que está preso em Rondônia, mas ainda dá as cartas na facção ADA (Amigos dos Amigos), que controla o tráfico na comunidade. Um racha na facção gerou conflitos que duram 40 dias na favela.

Às 15h, os militares deixaram as comunidades, sem previsão de continuidade da ação nos próximos dias.

Além dos presos, as autoridades apreenderam quatro pistolas, um revólver, 111 munições, uma granada e quantidade ainda não contabilizada de drogas.

Uma segunda operação com 300 homens da PM está em curso desde a noite de quinta-feira (26) no Complexo do Lins, região do Méier (zona norte), para tentar capturar homens envolvidos na morte do coronel, comandante do 3º Batalhão e que deixou mulher e dois filhos.

Ao todo, doze pessoas foram presas na ação que continua em curso –a polícia busca cumprir 14 mandados de prisão na região. Foram apreendidas dez motos, um carro, um carregador de pistola, 19 galões de cheirinho da loló. Também foram encontradas 681 trouxinhas de maconha, 244 capsulas de cocaína, 181 pedras de crack e seis lanças perfumes. Não há informações, até as 17h40, de vítimas ou feridos. A PM não informou se a operação continuará nos próximos dias.

Divulgação/PMERJ
Coronel Luiz Gustavo Teixeira, do 3º Batalhão no Rio, que morreu após ser baleado nesta quinta
Coronel Luiz Gustavo Teixeira, do 3º Batalhão no Rio, que morreu após ser baleado nesta quinta

AULAS

Devido às duas operações 8.452 alunos da rede municipal estão sem aulas. De acordo com a secretaria de Educação do município, 30 unidades, entre escolas primárias, creches e espaços de desenvolvimento infantil não funcionaram nesta sexta.

Somente no Lins de Vasconcelos, bairro da zona norte onde o coronel foi morto, 1.773 alunos estão sem aula.

Na região central da cidade, onde ocorre a operação com apoio das Forças Armadas, 4.216 alunos estão sem aula.

112 MORTES

Com o assassinato do coronel Teixeira, subiu para 112 o número de policiais militares assassinados somente este ano no Estado do Rio. Nos últimos três dias, ao menos dois outros policiais foram mortos.

Na noite de terça (24), um soldado da PM de folga foi morto a tiros por dois homens armados também em Guadalupe. Ele deixava um shopping no bairro quando teria sido abordado em uma tentativa de assalto. Ele chegou a ser levado com vida ao hospital.

RAIO-X DA CRISE NO ESTADO DO RIO

Na manhã daquele mesmo dia, em Queimados, município da Baixada Fluminense, um policial também foi assassinado. O carro em que ele estava teve os vidros dianteiros atingidos por pelo menos 13 tiros.

Há a suspeita de que ele integrasse um grupo de milicianos na região. O Rio atingiu a marca de 100 policiais mortos em agosto deste ano. O centésimo morto foi um sargento que teria sido vítima de um latrocínio. Ele teria reagido a um assalto em São João de Meriti, na Baixada.

As circunstâncias em que o sargento foi baleado parecem ser típicas dos PMs mortos no Estado: fora de serviço, no final de semana e na Baixada, região que concentra muitas dessas mortes.

O Rio enfrenta uma grave crise financeira, com cortes de serviços e atrasos de salários de servidores, e está perto de um colapso na segurança pública.

Um outro efeito dessa crise tem sido o aumento dos índices de criminalidade e a redução do número de policiais em favelas ocupadas por facções criminosas. As UPPs, base policiais em comunidades controladas pelo tráfico, perderam parte de seu efetivo.

Nos últimos meses, têm sido rotina mortos e feridos por bala perdida, além de motoristas obrigados a descer de seus carros para se proteger dos tiros.

A situação de insegurança também levou o presidente Michel Temer a autorizar o uso das Forças Armadas para fazer a segurança pública do Rio até o final do ano que vem.

Colaboração do UOL

Fotomontagem
Fotomontagem com parte dos 97 PMs assassinados no Rio neste ano
Fotomontagem com parte dos 97 PMs assassinados no Rio neste ano

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