Folha de S. Paulo


Após disparos, atirador de GO chamou pelo pai, diz conselheiro de educação

Mateus Bonomi/Folhapress
 Alunos colocam cartazes em homenagem as vítimas do ocorrido na escola Goyases
Alunos colocam cartazes em homenagem as vítimas do ocorrido na escola Goyases

"O que eu estou fazendo? Cadê o meu pai?" Essas foram as primeiras palavras que o atirador de 14 anos disse à coordenadora da escola particular Goyases, em Goiânia, após matar a tiros dois colegas de sala e deixar outros quatro feridos, segundo o conselheiro estadual de educação de Goiás e presidente do Sindicato de Estabelecimentos Particulares de Ensino de Goiânia, Flávio Roberto de Castro.

Ele conversou com a coordenadora da escola, que não tem previsão para retomar as aulas.

"Foi a coordenadora que conversou com o aluno [atirador] e conseguiu segurar a arma dele [que ficou descarregada após uma sequência de ao menos 11 tiros]. Ela conversou com ele, que disse a ela: 'O que eu estou fazendo?'", contou o conselheiro. "Em seguida, a coordenadora contou que ele perguntou 'cadê o meu pai?' e ela disse que já estava ligando para ele [um major da PM]."

A polícia nega a versão de que a arma foi segurada pela coordenadora, que apenas teria conversado com o atirador.

Castro afirmou que mantém contato com a coordenadora e que também tem se reunido com frequência com os integrantes da direção da escola, para acompanhar o caso e oferecer assistência.

Na ficha estudantil individual do atirador, de acordo com o conselheiro, não há qualquer registro de "anormalidade nem reclamação por parte dele ou da família de que era vítima de bullying".

Filho de policiais militares, o atirador usou uma arma da corporação sob responsabilidade do pai para praticar os atos infracionais. Ele é aluno da escola há muitos anos e tem um irmão mais novo que também estuda na unidade de ensino.

Arquivo Pessoal
Adolescente após ter efetuado ataque a tiros a colegas de escola em Goiânia
Adolescente após ter efetuado ataque a tiros a colegas de escola em Goiânia

"Uma professora relatou que conversou com ele antes sobre a mostra de ciências que aconteceria no outro dia normalmente. Nunca houve conversa dele sobre isso [bullying] com professores. Nunca houve conversa dos pais dos alunos com a escola para dizer que ele tinha problema com isso", afirmou o conselheiro.

"Muita gente diz que ele sofria bullying, mas, com esse aluno, houve uma situação de brincadeira e ele potencializou essa brincadeira", afirmou Castro, referindo-se ao suposto fato de que o atirador era chamado de "fedorento" por um dos colegas de sala que ele matou. "Dizer que foi bullying é muito precipitado", acrescentou.

Quatro psicólogos estão realizando acompanhamento terapêutico junto aos coordenadores e membros da direção da escola. A partir da próxima quarta-feira (25), a escola deve fazer reunião com pais e professores para reprogramar o calendário escolar. Isto porque terça-feira (24) é feriado por causa do aniversário de Goiânia, antecedido por ponto facultativo.

A reportagem da Folha ligou para a advogada da família do atirador, Rosângela Magalhães, e enviou mensagem por WhatsApp, na tarde deste domingo (22), mas ela não se manifestou.

"INSUPERÁVEL"

Os diretores da escola Goyases se manifestaram neste domingo pela primeira vez desde que ocorreu a tragédia.

"Essa lacuna deixada pelos ausentes será irrecuperável", diz um trecho do comunicado publicado nesta tarde.

A nota é assinada pela "Família Goyases", referência ao nome do colégio.

Os responsáveis pela escola dizem estar enlutados e pedem para que não se faça qualquer julgamento.

"Deixemos de lado os julgamentos e vamos promover uma profunda reflexão na sociedade, nas escolas e nos lares e sobretudo uma reflexão individual perguntando o que podemos fazer para amenizar a dor desse momento e como deveremos agir para evitar futuros fatos assim tristes", diz a nota.

A escola diz estar dando "total respaldo às famílias" e afirma que durante a semana será redefinido o calendário do ano letivo.

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Leia a íntegra da nota:

Aqui estamos para externarmos nosso pesar e nossa dor por essa tragédia. O luto das famílias de João Pedro e João Vitor é nosso, assim como de toda a sociedade e de todo país.

Diante disso rogamos a Deus, que acolha as vítimas fatais e que proteja as demais vítimas.

Deixemos de lado os julgamentos e vamos promover uma profunda reflexão na sociedade, nas escolas e nos lares e sobretudo uma reflexão individual perguntando o que podemos fazer para amenizar a dor desse momento e como deveremos agir para evitar futuros fatos assim tristes.

Agradecemos a todas as mensagens de apoio e solidariedade recebidas e convocamos a comunidade para nos unirmos em oração pelos alunos que se encontram hospitalizados e também pelos pais que perderam tão prematuramente seus filhos.

Estamos dando total respaldo às famílias e pedimos a Deus força para superar este momento tão nebuloso.

No decorrer da semana vamos nos reunir para definir uma nova proposta de calendário para continuidade do ano letivo, embora saibamos que essa lacuna deixada pelos ausentes será irrecuperável.

Família Goyases


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