Folha de S. Paulo


Casos de malária invertem tendência de queda e aumentam 28% neste ano

Reprodução
Mosquito do gênero Anopheles, responsável por transmitir o parasita causador da malária

Em queda desde 2010, os casos de malária voltaram a registrar crescimento neste ano no país. Os dados foram divulgados pelo Ministério da Saúde nesta terça-feira (10).

De janeiro a julho, foram registrados 88.757 casos -um aumento de 28% em relação ao mesmo período de 2016, quando houve 69.413 casos.

Segundo o ministério, o aumento ocorre principalmente na região Norte, em Estados como Pará (onde o aumento foi 107%), Amazonas (43%) e Roraima (10%).

A doença, causada por protozoários transmitidos pela fêmea infectada do mosquito Anopheles, ocorre em regiões rurais e acomete principalmente populações mais vulneráveis, em locais com más condições de saneamento e invasões em áreas de mata, por exemplo.

Já os casos de malária falciparum, nome dado à doença causada pelo protozoário do gênero Plasmodium Falciparum, tiveram aumento de 33% no mesmo período. Nos últimos anos, especialistas já falavam na possibilidade de eliminação dessa forma da doença, que agora registra aumento.

FATORES

Para o Ministério da Saúde, o aumento no número de casos pode estar associado "às condições climáticas da região e ao próprio ciclo da doença". Especialistas, no entanto, apontam outro fator: a mudança no modelo de combate à doença, como a integração das equipes de controle da dengue e malária, o que antes ocorria de forma separada.

"Isso complica. Dengue é uma doença urbana, e malária é rural", afirma o infectologista Marcos Boulos, da USP. "A malária, na história do Brasil, tem subidas e descidas. E quando sobe, geralmente é porque houve uma desorganização do serviço", completa ele, que faz parte de um grupo que analisa os casos. "Não sabemos se essas mudanças podem ter interferido, mas às vezes perde-se a rotina [de controle]."

Para comparação, entre 2011 e 2016, os dados vinham em queda. Em 2011, foram registrados 261 mil casos. Já em 2016, o total de registros caiu para 124 mil. Uma situação que começa a inverter neste ano.

Em nota, o Ministério da Saúde informa que "acompanha os casos de malária, dando apoio à orientação às equipes estaduais e municipais" e que mantém uma rede de diagnóstico de tratamento gratuito para a doença.

Diz ainda que o esforço para controlar e prevenir a malária tem demonstrado resultados positivos nos últimos anos. Admite, porém, que "a situação epidemiológica da malária em 2017 não reflete o padrão de diminuição de casos desde 2010".

Transmitida pela picada do mosquito Anopheles, a malária tem como principais sintomas o quadro de febre alta, calafrios, tremores, sudorese e dor de cabeça. Podem ocorrer também dor muscular, taquicardia, aumento do baço, entre outros sintomas. O tratamento varia conforme o quadro.

Segundo o ministério, entre as ações realizadas para controle da doença nos últimos anos, estão a instalação de postos de diagnóstico na Amazônia, aumento do controle vetorial e manutenção, desde 2012, de equipes de especialistas em 43 municípios prioritários –o que levou à redução de quase 50% dos casos nestes locais.

"Desta forma, é essencial a continuidade das ações, e o fortalecimento e a manutenção da vigilância em áreas da transmissão da doença, evitando a reintrodução da malária aonde a transição já foi interrompida", afirma, em nota.


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