Folha de S. Paulo


'Burburinho' ligou alerta sobre roubo; infografia mostra a estrutura do túnel

Como era o túnel que ligava casa ao cofre do BB em Sto. Amaro

Foi a partir de um "burburinho" ouvido há três meses que a Polícia Civil passou a investigar o que poderia ter sido o maior assalto a banco do país –R$ 1 bilhão, segundo as investigações que levaram à prisão de 16 pessoas em São Paulo na noite de segunda (2).

"Como cada meio tem a sua fofoca, a sua conversa, começa-se a falar na área criminosa, às vezes um advogado, às vezes um criminoso: 'Nossa, parece que vai ter um roubo bilionário'", disse o delegado Fábio Pinheiro Lopes, responsável pela operação.

Os suspeitos presos planejavam um roubo de R$ 1 bilhão de uma base de distribuição do Banco do Brasil na zona sul de SP, segundo a polícia. Eles teriam investido R$ 4 milhões no crime e usaram equipamento sofisticado e alto conhecimento técnico.

Identificada a quadrilha suspeita de planejar o assalto, os investigadores alugaram, há um mês, um imóvel nas proximidades do que seria o QG do grupo, um galpão no extremo norte da cidade –um local antes pacato, mas que há três meses passou a ter movimentação intensa.

Com a suspeita de que a cifra chegaria a R$ 1 bi, a polícia restringiu a busca a locais que poderiam armazenar esse montante e chegou à essa base de distribuição do Banco do Brasil na Chácara Santo Antônio –o local visado, centro que guarda depósitos compulsórios de bancos, pode armazenar até R$ 5 bilhões.

Em junho, os bandidos usaram documento falso e alugaram uma casa a 650 metros do banco, por R$ 2.000 mensais –chegaram a atrasar o aluguel uma vez. A partir daí, passaram a escavar o túnel.

Para evitar serem vistos da rua, os bandidos trocaram o portão da casa. Fizeram pouco barulho durante as escavações –exceto no momento de quebrar o piso, pois o terreno na região é argiloso.

Na manhã desta terça (3), as paredes e chão do imóvel estavam sujos de terra, e havia um gerador e uma série de colchões empilhados.

O túnel que sai da casa vai até a galeria de águas pluviais da prefeitura. Os bandidos aproveitaram essa estrutura, que passa perto do banco, e a partir dela cavaram a última parte do túnel, até um cofre da instituição.

"A gente procurou o pessoal do banco, que falou: 'Não, lá não tem como isso ocorrer'. A gente pediu uma vistoria e eles detectaram uma rachadura em um dos cofres, que seria o alvo da quadrilha", diz o delegado, que suspeita do envolvimento de algum funcionário terceirizado, prestador de serviço do banco.

O túnel já estava pronto, e os bandidos montavam a estrutura dos trilhos em outro imóvel. Para a polícia, o roubo ocorreria possivelmente nesta sexta (6). No momento da prisão, ninguém reagiu, e nenhuma arma foi achada.

Lucas Tófoli/Folhapress
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Pilha de trilhos encontrada na casa em que o túnel estava sendo cavado, na zona sul

No imóvel usado como base da quadrilha, foi encontrada uma máquina de solda e corte a plasma –geralmente utilizada para cortar aço de navio, mas que serviria para construir a estrutura de escoamento do dinheiro, com mil metros de trilho e dez carrinhos. Entre as 16 pessoas presas havia um serralheiro.

Túnel

A polícia também suspeita da participação de um engenheiro ou mestre de obras no planejamento da escavação do túnel, que tem cerca de 500 metros e que liga a residência alugada pelos bandidos ao banco.

Diz ainda diz que pode haver quatro foragidos, mas que os chefes foram pegos.

O grupo deve responder por formação de quadrilha e tentativa de furto –um suspeito pode ser acusado ainda de falsidade ideológica, por usar documento falso.

Dos 16 presos, quatro não tinham passagem pela polícia, e dois eram procurados.

O delegado diz ver ligações do líder do grupo, Alceu Ceu, 35, com outros casos, como o roubo a uma transportadora de valores no Paraguai em abril. O delegado diz não ter informações do envolvimento de Ceu com a facção PCC.


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