Em discurso representando os estudantes brasileiros da Universidade de Coimbra, o jovem Fernando Albuquerque Mourão saudou o presidente Café Filho, que visitava Portugal em 1955.
Muitos bacharéis em direito teriam construído uma carreira jurídica ou política a partir de uma formalidade dessas. A fala de Mourão, no entanto, se deu em um momento de ruptura em sua trajetória pessoal –paulatinamente, ele se afastava do estudo das leis para imergir na pesquisa sobre a África.
O contexto era propício: movimentos nacionalistas afloravam naquele continente e Mourão vivia na metrópole. Era integrante da Casa dos Estudantes do Império, agremiação da qual participaram nomes como Agostinho Neto, primeiro presidente de Angola, e Amílcar Cabral, líder da independência de Guiné Bissau.
Seus membros foram perseguidos pela ditadura salazarista, acuada pela iminente descolonização. Mourão regressou ao Brasil.
Por aqui, revolucionou a forma de se estudar a África, antes baseada em modelos europeus. Em 1965, ajudou a fundar o Centro de Estudos Africanos da USP. Em 1971, tornou-se titular da cadeira de sociologia da universidade.
Também antecipou a necessidade criar uma política externa voltada aos países de lá. "Foi interlocutor de alto nível dos governos brasileiros com africanos. Sua presença em toda África, Angola em especial, é notável", diz Alysson Mascaro, professor de filosofia do direito da USP.
Morreu no último dia 30, aos 83. Deixa mulher, dois filhos, netos e bisneto.
coluna.obituario@grupofolha.com.br
-