Folha de S. Paulo


Após uma semana de cerco, Forças Armadas deixam favela da Rocinha

As Forças Armadas iniciaram na madrugada desta sexta-feira (29) a retirada das tropas que atuaram no cerco à Rocinha, favela da zona sul carioca que tem sido palco de uma disputa entre traficantes rivais pelo controle do tráfico de drogas. Às 8h50, já não havia mais militares na favela. Os homens que faziam revistas nos acessos do local deixaram seus postos.

A rua General Olímpio Mourão, em São Conrado, que havia sido fechada para ser usada como base para os blindados das Forças Armadas foi liberada para trânsito de veículos. Às 9h, o movimento era grande na Via Ápia, uma das principais vias de acesso da Rocinha. Moradores seguiam em direção a estação de metrô em São Conrado.

No viaduto de acesso à favela, uma faixa com os dizeres "intervenção militar" e um pedido para que as pessoas buzinassem em apoio foi estendida. Alguns carros correspondiam ao pedido e outros passavam sem buzinar.

Duas bandeiras do Brasil também foram estendidas sobre outras que pediam paz na comunidade, colocadas por moradores no início da semana.

Em apoio à Polícia Militar, os militares chegaram à comunidade na última sexta-feira (22), depois de uma semana com tiroteios diários que deixaram ao menos quatro mortos.

Na quinta-feira (28), o ministro da Defesa, Raul Jungmann (PPS-PE), já havia anunciado a retirada das Forças Armadas. Na visão dele, os militares cumpriram a missão designada e não havia mais necessidade de permanência na região. "Neste momento, a Rocinha está estabilizada", disse.

O anúncio, no entanto, foi feito no mesmo dia em que um crime levou pânico a moradores da favela e mostrou que, a despeito da forte presença policial e de militares, os traficantes continuam na Rocinha. No meio da tarde, dois menores de idade foram sequestrados e torturados por traficantes na parte alta do morro.

A PM também confirmou que um suposto traficante morreu na noite de quinta durante confronto com as forças de segurança. Policiais patrulhavam a região na favela conhecida com Vila Verde quando teriam sido atacados por traficantes armados. O homem foi ferido e, levado ao hospital, não resistiu. Com ele foi encontrada uma pistola.

GUERRA DO TRÁFICO

Os confrontos na favela ocorreram depois de uma tentativa de invasão, em 17 de setembro, quando criminosos leais ao ex-chefe do tráfico Antônio Bonfim Lopes, o Nem, atacaram o bando de Rogério Avelino da Silva, o Rogério Avelino da Silva, que passou a ditar as ordens na favela após a prisão do antecessor, em 2011.

O objetivo de Nem, que cumpre pena em Porto Velho (RO), é retomar o controle das bocas de fumo. Mesmo detido e fora do Estado, ele continua a dar ordens na quadrilha. Já o ex-aliado e agora rival, Rogério 157, está foragido e é procurado pela polícia. Na quinta-feira (28), forças especiais da PM fizeram uma operação no Complexo da Maré, conjunto de favelas da zona norte da cidade, após denúncias de que o traficante poderia estar escondido nas favelas Nova Holanda e Parque União. Ele não foi encontrado.

Com a saída das tropas federais, a função de estabelecer a ordem e a segurança na região caberá às polícias Militar e Civil. Já nesta manhã, homens da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Rocinha, do Bope (Batalhão de Operações Especiais) e da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais) circulavam pelos principais acessos à favela.

No total, quase 1.000 homens do Exército, da Marinha e da Aeronáutica atuaram na operação de cerco à comunidade, que conta com aproximadamente 80 mil moradores. De acordo com o Ministério da Defesa, a retirada das tropas será gradual. A primeira a sair da favela foi a dos fuzileiros navais.

Até a noite de quinta, as forças de segurança prenderam 24 suspeitos durante as ações na Rocinha. Também foram apreendidos 25 fuzis, 14 granadas e sete bombas de fabricação caseira, segundo informou a Secretaria de Estado de Segurança Pública. Três suspeitos foram mortos durante confrontos entre policiais e criminosos.

Em uma semana de cerco, segundo o órgão estadual, a delegacia da Rocinha (11ª DP) conseguiu identificar 59 suspeitos de participação nos confrontos que ocorreram durante uma tentativa de invasão por parte de criminosos leais a Antônio Bonfim Lopes, o Nem, em 17 de setembro.

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