Folha de S. Paulo


Maria José da Luz Lira (1935-2017)

Mortes: Dona de bar, Maria Sem Troco foi tema de música em MS

Arquivo Pessoal
Maria José da Luz Lira (1935-2017)
Maria José da Luz Lira (1935-2017), a Maria Sem Troco

Cruzeiros, cruzeiros novos, cruzados, cruzados novos, cruzeiros reais, reais. Corta zero, bota zero, tira os centavos, coloca de volta. Se a evolução do dinheiro no Brasil foi algo errática nos últimos 50 anos, o mesmo não se pode dizer da política do bar de Maria José da Luz Lira: fosse qual fosse a moeda corrente, ela nunca devolvia o troco.

Como às vezes é preciso alguém de fora para constatar o óbvio, coube a um forasteiro cunhar o apelido da dona da biboca mais conhecida de Rochedo (MS), onde vivem 4.972 segundo o último censo.

Depois de ver sua compra aumentar em progressão aritmética até atingir o valor da nota que tinha em mãos, o delegado da vizinha Corguinho, por ali de passagem, estreou o epíteto. E, como palavra de autoridade é o que vale, assim ficou: Maria Sem Troco.

A alcunha não era exata: troco Maria tinha, mas fingia que não. As cédulas, na gaveta da registradora só por formalidade, ela colecionava –guardou boa parte até o fim da vida. Mas quem quisesse gelar a goela com uma cervejinha e não tivesse trocado era entuchado com pastel, pé de moleque e biscoito. A tática comercial rendeu até tema de canção regionalista.

Religiosa, mas fã do Carnaval da cidade, tinha o gênio forte. "Era muito brigona pelos filhos", conta Marta, com conhecimento de causa.

O bar fechou em 2000, mas Sem Troco manteve o status de celebridade local. No dia 24, quando morreu, a prefeitura emitiu nota saudando-a como "a cidadã rochedense que mais apareceu na mídia".

Tinha 82 anos e não resistiu a duas paradas cardíacas. Deixa três filhos e dois netos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

-

Veja os anúncios de mortes
Veja os anúncios de missas


Endereço da página:

Links no texto: