Folha de S. Paulo


Troca de tiros deixa três mortos e criança ferida na zona norte do Rio

O cerco realizado pelas Forças Armadas não interrompeu a troca de tiros na favela da Rocinha, zona sul do Rio. Disparos foram registrados na madrugada e no início da tarde na comunidade, que há uma semana é palco de conflito de traficantes.

Confrontos, com três mortes, também ocorreram à tarde em locais do outro lado da Floresta da Tijuca, que circunda a Rocinha e é usada pelos bandidos como esconderijo e rota de fuga.

Ao todo, nove homens foram presos e 18 fuzis foram apreendidos, além de sete granadas e 2.136 munições, segundo balanço da secretaria da Segurança Pública, divulgado no fim do dia.

A Polícia Militar trocou tiros com suspeitos em pontos do Alto da Boa Vista, Tijuca e Santa Teresa. Nos dois primeiros casos, a Polícia Civil confirmou a suspeita de vínculo com os conflitos na Rocinha.

No Alto da Boa Vista, dois homens foram mortos e dois, presos, segundo a Polícia Civil. Foram apreendidos dois fuzis. Uma criança de 13 anos foi baleada e levada para o Hospital Souza Aguiar.

Na Tijuca, uma pessoa foi morta em confronto com a PM e outra, presa.

O Parque Nacional da Tijuca é o principal ponto de referência da cidade, definindo os bairros da zona sul, norte e oeste da capital. Com 4.200 hectares, frequentemente sua área é usada como esconderijo e rota de fuga das quadrilhas de traficantes.

Quatro homens foram presos pelas Forças Armadas na madrugada de sábado (23) ao tentar fugir da Rocinha fazendo um taxista como refém.

O general Mauro Sinott afirmou que não há prazo para a saída das Forças Armadas do entorno da Rocinha. Os militares estão no local desde sexta-feira (22).

"Os resultados dessa madrugada mostram que estamos no caminho certo", disse o oficial.

O secretário de Segurança, Roberto Sá, declarou que o objetivo da polícia é fazer "prisões sem confronto". Ele se referia à possibilidade do traficante Rogério Avelino, o Rogério 157 se entregar -negociação não confirmada pelas autoridades. "Estamos mantendo a região estável. Mas ainda estamos fazendo buscas na mata", disse Sá.

Na madrugada, um novo tiroteio já tinha sido ouvido na favela, após uma noite aparentemente tranquila e depois de o ministro da Defesa, Raul Jungmann, dizer que a favela estava "pacificada".

Depois, novos disparos ocorreram na comunidade por volta das 13h deste sábado (23). Os tiros, que aparentemente ocorriam na parte alta da Rocinha, duraram cerca de dez minutos, e obrigaram militares e jornalistas a se abrigarem na 11ª delegacia, que fica no pé da favela.

CONFLITO DE FACÇÕES

A Rocinha enfrenta confrontos entre facções pelo controle do tráfico desde domingo (17). O conflito envolve os traficantes Antônio Bonfim Lopes, o Nem, preso em 2011, e seu sucessor no comando, Rogério 157.

Nem estaria insatisfeito com a atuação de Rogério, que passou a cobrar os moradores por serviços como água e mototáxi. Determinou a invasão de dentro de presídio federal em Rondônia, com apoio de criminosos da facção ADA (Amigo dos Amigos), a segunda maior do Rio. Rogério teve o reforço de bandidos do CV (Comando Vermelho).

A Polícia Civil prendeu na madrugada deste sábado Luiz Alberto Santos de Moura, conhecido como Bob do Caju. Segundo a investigação, o criminoso é um dos responsáveis pela invasão da Rocinha no último domingo (17).

Ele foi encontrado num bairro residencial da Ilha do Governador (zona norte) com uma pistola. A polícia também apreendeu dez fuzis que seriam levados do morro do Caju ao do São Carlos, para armar bandidos que dariam apoio ao tráfico na Rocinha.

A informação aponta que as armas foram utilizadas na invasão do último domingo, mas haviam retornado ao Caju em decorrência das operações policiais.

A juíza Yedda Assunção decretou a prisão temporária de Celso Luiz Rodrigues, o Celsinho da Vila Vintém, preso há 15 anos, e outras 16 pessoas pela invasão da Rocinha.

Celsinho, fundador da ADA, foi transferido do presídio federal de Porto Velho para o Rio em maio, de onde teria dado a ordem de apoio ao aliado Nem.

Apesar dos novos confrontos, o comércio abriu na favela. Nos acessos à comunidade, dezenas de carros e tanques do Exército reforçavam a segurança.

Uma blitz de militares foi montada na estrada da Gávea. Homens do Exército utilizam drone para monitorar a região.


Endereço da página:

Links no texto: