Folha de S. Paulo


Tiroteio na Rocinha fecha estrada e causa pânico; Pezão aciona Exército

Vídeo de tiroteio

Após sofrer tentativa de invasão por traficantes rivais no domingo (17) e entrar nesta sexta-feira (22) em seu quinto dia com operações policiais, a favela da Rocinha, na zona sul do Rio de Janeiro, voltou a registrar confrontos e ataque a policiais na manhã de hoje.

O governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) e o secretário de Segurança Pública, Roberto Sá, pediram ao CML (Comando Militar do Leste) a atuação das forças militares na Rocinha. O cerco deve acontecer nas próximas horas, segundo informou o governo do Estado.

Há relatos também de tiroteios em outras comunidades do Rio, como o Dona Marta e Chapéu Mangueira, na zona sul, e no Complexo do Alemão, na zona norte.

Pezão diz que as ações são uma reação ao avanço das tropas do Bope (Batalhão de Operações Especiais) na Rocinha.

"Ontem descobrimos uma grande quantidade de armas e drogas e temos indícios de que há grande quantidade de traficantes em determinada região da Rocinha, para onde o Bope está se deslocando. Tenho certeza de que o que está acontecendo é reação a isso", afirmou o governador.

Na região da Rocinha, os tiroteios levaram ao fechamento da estrada Lagoa-Barra, principal via de ligação entre as zonas sul e oeste da cidade, por quatro horas. Por volta das 14h, o tráfego foi liberado.

O Centro de Operações da prefeitura, porém, recomenda o uso de transporte público, principalmente aos que se dirigem ao Rock in Rio.

Em outro ponto, um grupo de menores de idade, segundo a PM, ateou fogo em um ônibus na subida da avenida Niemeyer, em São Conrado. As chamas foram controladas sem ser necessário o acionamento dos bombeiros, de acordo com a corporação.

Ainda na manhã desta sexta, uma granada foi lançada em direção a uma viatura da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Rocinha na passarela que dá acesso à comunidade. O artefato não explodiu e o Esquadrão Antibomba foi acionado.

Pezão disse que o reforço militar deve atuar nas vias de acesso à comunidade para "dar tranquilidade para as pessoas". "Não vamos recuar", disse ele. Na operação desta quinta (21), a polícia apreendeu dois fuzis, duas pistolas, três granadas, maconha e cocaína. "Foi um resultado extraordinário", declarou o governador.

Jornalistas que acompanhavam o quinto dia de operação militar foram orientados a se refugiar na 11ª DP durante o tiroteio na manhã desta sexta.

No Dona Marta, criminosos atiraram contra policiais durante patrulhamento também nesta manhã. Segundo a UPP, não houve revide por parte dos agentes, que realizam buscam para prender os suspeitos.

No início da tarde, um homem se entregou à Polícia Federal. Ele tem três mandados de prisão e será interrogado pela 11ª Delegacia de Polícia (Rocinha), para identificação de sua relação com os eventos desta semana.

A polícia já identificou pelo menos 12 suspeitos de participar da guerra na Rocinha e pretende indiciar também lideranças de outras comunidades que enviaram homens para apoiar a invasão da favela.

SEM AULA

A Secretaria Municipal de Educação informa que unidades escolares no Morro do Queto, em Sampaio, Rocinha, Juramento, Acari e Pavuna não abriram nesta sexta-feira (22) devido a confrontos e operações policiais na região. No total, são seis escolas, quatro creches e três EDIs (Espaços de Desenvolvimento Infantil) na rede municipal fechados. Ao todo, 3.910 alunos sem aulas. Só na Rocinha são cerca de 2.400 estudantes afetados.

O acirramento da tensão na Rocinha fez colégios particulares do Rio cancelaram aulas e atividades extracurriculares nesta sexta-feira (22).

A Escola Americana enviou comunicado ainda nesta quinta (21) aos pais informando que o campus da Gávea, vizinho à Rocinha, seria fechado nesta sexta. De acordo com o comunicado, a instituição afirma que tem feito o melhor que pode para manter a escola aberta para evitar transtornos ao aprendizado, mas que decidiu não abrir para garantir a proteção dos alunos.

Já o Colégio Teresiano, também em região próxima à Rocinha, cancelou as atividades ao ar livre por entender que não havia segurança fora da sala de aula. No comunicado enviado aos pais, a diretora-geral da escola, Glória Nascimento, diz que "os recentes acontecimentos em nossa cidade nos fazem tomar medidas prevendo a segurança de alunos, professores e funcionários".

A Escola Parque, por sua vez, decidiu suspender as aulas, segundo comunicado, após contato com a Polícia Militar.

Após o registro de conflito no Morro Dona Marta, em Botafogo, a Escola Britânica do Rio de Janeiro enviou comunicado aos pais afirmando que as aulas prosseguiriam normalmente nesta sexta, mas que, por cautela, as crianças não poderiam circular nas áreas externas. A escola, contudo, resolveu cancelar as atividades extracurriculares que normalmente ocorrem à tarde.

Na terça-feira (19) a PM realizou operações em seis favelas do Rio. O objetivo era buscar acusados de participar da invasão da Rocinha no último domingo, mas não houve presos.

FORÇAS ARMADAS

As Forças Armadas serão deslocadas ainda nesta sexta para apoiar a Polícia Militar na Rocinha. No fim da manhã de hoje, os militares planejavam os detalhes da ação e mobilizavam as unidades para deslocamento até o local.

Um participante da operação informou à Folha que foi acordado que os militares farão um apoio à PM, que já está dentro da comunidade. O trabalho das Forças Armadas, a princípio, será no controle das entradas da Rocinha. A ideia é "liberar" a polícia dessa tarefa.

A atuação foi autorizada, segundo ele, pelos ministérios da Defesa e da Justiça, além do GSI (Gabinete de Segurança Institucional).

Os responsáveis pela operação evitam divulgar previamente a quantidade de homens, o horário que chegarão à Rocinha e detalhar o trabalho que será realizado para não atrapalhar a operação.

Tiroteio na Rocinha

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