Folha de S. Paulo


Sobrevivente da maior chacina de São Paulo diz ter medo de policiais

Thiago Amâncio/Folhapress
Parentes protestam diante do fórum de Osasco antes de julgamento da maior chacina de SP.
Parentes protestam diante do fórum de Osasco antes de julgamento da maior chacina de SP.

Sobrevivente da chacina que deixou 17 mortos em Osasco e Barueri em 2015, Amauri José, 56, pediu para depor longe dos olhos dos três réus, os policiais militares Fabrício Eleutério, 32, Thiago Henklain, 30, e o guarda municipal Sérgio Manhanhã.

"Como fui alvejado, estou com medo", disse. Debilitado, ele precisou do auxílio de uma assistente para andar até o banco dos depoentes e falou em voz baixa.

Amauri relatou que estava no bar do Juvenal no dia 13 de agosto de 2015 e, por já ter bebido bastante, dormia em uma cadeira próxima à porta. Acordou só 13 dias depois: tomou um tiro no rosto que saiu pelo pescoço e ficou em coma no período. No total, foram 75 dias internado.

Ele afirma que não viu o momento do tiroteio. "Caí no sono, não vi nada, não ouvi nada", disse. Como sequela, ficou com problema de memória. Ele afirmou que não sabe quem são os autores do massacre.

Pintor de parede, ele diz que não consegue mais trabalhar porque tem falta de ar. Para se sustentar, recebe uma pensão de um salário mínimo do governo –ele afirmou aos jurados que ganhava mais do que isso trabalhando. Por não conseguir mastigar, precisa de alimentação especial e só come legumes e carne cozida.

Amauri disse que nunca teve problemas com a polícia e que conhecia algumas das vítimas por morar há 50 anos na região.

Ele foi o segundo depoente do julgamento, que começou mais de duas horas de atraso porque o tribunal aguardava a chegada de uma testemunha. Antes, falou o capitão da corregedoria da PM Rodrigo Elias da Silva, sobre as investigações que resultaram na prisão dos réus.

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A CHACINA DE OSASCO E BARUERI

Julgamento do caso começa na segunda-feira (18)

Do que os 4 suspeitos são acusados
De estarem envolvidos no assassinato de 17 pessoas em 13.ago.2015, em Osasco e Barueri, em retaliação à morte de um PM e um guarda municipal em assaltos dias antes. Cada réu é acusado por um número de mortos e feridos

O que diz a denúncia
Os réus faziam parte de uma milícia armada que atuava na segurança de comerciantes da região e na prática de crimes, como homicídios. Eles se conheciam por meio do PM Victor Cristilder, que seria chefe da segurança de um supermercado de Carapicuíba

Principais evidências, segundo a Promotoria
- Há 3 testemunhas: uma reconheceu um dos PMs na chacina, uma viu outro PM na pré-chacina e a terceira diz que vizinho ouviu uma briga
- Um dos PMs e o GCM trocaram mensagens de "positivo" antes e depois do horário da chacina
- Parte de cápsulas apreendias eram de lote do Exército, onde um deles já trabalhou

Fragilidades da acusação
- Não há provas da ligação entre os quatro réus, contrariando a tese de formação de milícia
- Relatos das testemunhas apresentam contradições
- Faltam evidências como armas, veículos e ligações em celular

Chacina Osasco

CRONOLOGIA DO CASO

7.ago.2015
Cabo da PM Ademilson Pereira, 42, é morto em assalto em Osasco

8 a 10.ago.2015
Ocorrem "pré-chacinas", com mortes em Itapevi, Carapicuíba e Osasco

12.ago.2015
Guarda civil Jefferson Luiz da Silva, 40, é morto em assalto em Barueri

13.ago.2015
Um homem é morto em Itapevi, e chacina em Osasco e Barueri termina com 17 mortes

Dez.2015
Após polícia concluir investigação, Ministério Público denuncia três PMs e um guarda municipal

Out.2016
Os quatro suspeitos são presos

Dez.2016
Victor Cristilder, um dos PMs, é absolvido em outra denúncia por morte em 8.ago ligada à chacina

Fev.2017
Justiça decide que os quatro acusados no processo principal vão a júri popular

18.set.2017
Início do julgamento em tribunal de Osasco, que terá 42 testemunhas


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