Folha de S. Paulo


Alunas da 6ª série ajudam a criar aplicativo de merenda em SP

A elaboração do aplicativo Prato Aberto, que vai ajudar estudantes da rede municipal de São Paulo a avaliar a qualidade da merenda escolar, contou com o auxílio de três consultoras mirins: alunas da mesma sala da 6ª série do CEU (Centro Educacional Unificado) Lajeado (zona leste da capital).

O aplicativo será lançado no mês que vem pela Secretaria Municipal da Educação, sob gestão João Doria (PSDB).

Rivaldo Gomes/Folhapress
SAO PAULO, SP, 14/09/2017, BRASIL, 14/09/2017 - APLICATIVO DA MERENDA -11:47:45 - As alunas, Geovana, 12 anos (sem tiara), Kethelyn Guerra Marques, 11 anos (cor branca) e Camilly Vitoria Borges Leite, 12 anos (de tiara), ajudaram a desenvolver o aplicativo de merenda, que sera lancado pela prefeitura no mes que vem. O trio ajudou na elaboracao do projeto como consultoras apos se inscreverem em concurso para desenvolver aplicativo, mas serem barradas por conta da idade, sao menores e nao poderiam assinar contrato. Kethelin (de cor branca), Camilly (de tiaara) e Geovana (sem tiara) posam para foto no refeitorio do CEU Lajeado. (Rivaldo Gomes/Folhapress, ESPECIAL) - ***EXCLUSIVO AGORA*** EMBARGADA PARA VEICULOS ONLINE***UOL, FOLHAPRESS E FOLHA.COM CONSULTAR FOTOGRAFIA DO AGORA***FONES 32242169 E 32243342**
As alunas Kethelyn, 11, Geovana, 12 e Camilly Vitória, 12, da 6ª série do CEU Lajeado, na zona leste

A história desse trio começou quando a estudante Geovana Vieira de Souza, 12 anos, estava na aula de informática e viu, no site da prefeitura, o anúncio da competição do site Pátio Digital, da prefeitura, que incentivava interessados a criar um aplicativo sobre merenda, elaborado em parceria com a Unesco.

"Eu achei interessante porque não gostávamos da merenda. E queríamos melhorar. O arroz era duro e a comida, sem sal. Já não é mais assim", diz Geovana.

Ela e duas amigas decidiram se inscrever. Dias depois, a direção da escola recebeu uma ligação da prefeitura explicando que elas não poderiam participar do concurso por serem menores de idade, mas foram convidadas para a consultoria mirim.

CONSCIÊNCIA

A estudante Kethelyn Guerra Marques, 11 anos, também participou da elaboração do aplicativo. "Achei muito legal participar de uma ação que pode ajudar. Foi bacana porque escutaram o que tínhamos a dizer."

A mãe dela, a representante comercial Mônica Guerra Marques, 36 anos, achou a iniciativa interessante. "A Kethelyn ficou mais participativa na escola. Ela está mais consciente. Vou usar o aplicativo para acompanhar a alimentação dela."

Camilly Vitória Borges Leite, 12 anos, conta que aprendeu a valorizar mais os alimentos após a experiência. "Foi legal ter contato com o secretário [municipal da Educação] e outras pessoas que sabiam fazer o aplicativo. Percebi que fazíamos algo que poderia mudar nossa realidade."

"Achei maravilhosa a iniciativa delas de querer participar", disse o secretário municipal da Educação, Alexandre Schneider.

A coordenadora do Pátio Digital, Fernanda Campagnucci, 32 anos, afirma que o site e seus projetos, como o desenvolvimento do aplicativo da merenda, fazem parte de uma tentativa de envolver a sociedade na compreensão de políticas públicas. No caso do aplicativo, diz, a função é tornar a escola mais transparente.

"Nunca houve uma avaliação por parte do município da merenda escolar. Chamou a nossa atenção que essas alunas se inscreveram espontaneamente para ajudarem a melhorar o processo de alimentação", conta.

Segundo ela, as garotas ajudaram a desenvolver um questionário sobre a merenda que será respondido pelos alunos por meio do aplicativo. "Elas usaram uma linguagem mais adequada para a idade", diz Fernanda.

O aplicativo, explica, tem três objetivos: expor o cardápio oferecido em cada escola, receber a avaliação dos alunos e fiscalizar o serviço da merenda. "A base é a participação social. Precisamos que todos participem até para fiscalizar as empresas que entregam as merendas, a ver se estão cumprindo o contrato adequadamente."

Crianças de quatro e cinco anos dos ensinos infantil 1 e 2 têm a chance de serem diretoras por um dia na Emei (Escola Municipal de Educação Infantil) Nelson Mandela, no Limão (zona norte de SP).

A diretora dessa escola, Cibele Racy Maria, 57 anos, decidiu instaurar o Dia do Diretor no ano passado, que acontece todos os dias. Os estudantes, que aguardam ansiosos pela oportunidade.

"Temos dois turnos por dia e, em cada um deles, seis alunos são escolhidos pela turma, em um critério próprio, para serem os diretores naquele dia. São 12 por dia. Com isso, nossos 351 alunos já puderam ter essa oportunidade", diz Cibele.

O aluno pode escolher o que fazer no seu dia especial. "Eles podem acompanhar como se faz o almoço, ver se a escola está limpa, se a merenda está boa. Eles são como diretores, mesmo, e os funcionários os respeitam como tais", diz a diretora.

Na sua vez, Mirella de Paula, 5 anos, passou em todas as salas de aula para ver o comportamento dos amigos. "Foi legal, mas choveu e não consegui usar a rede", diz a aluna, dando a entender que o diretor também pode descansar durante o trabalho.

Uma das dificuldades de Mirella, segundo conta a diretora, foi disciplinar os colegas. Mas uma canção infantil chamada "A Ram Sam Sam" virou símbolo de disciplina. "O aluno-diretor entra na sala, começa a cantar a música e os demais param de bagunçar", afirma Cibele.

O aplicativo Prato Aberto será lançado em outubro, de acordo com o secretário municipal da Educação, Alexandre Schneider. Segundo ele explica, uma das novidades é que o sistema terá o cardápio da merenda por escola.

"Os pais poderão acompanhar o que os filhos estão consumindo nas escolas deles. Não será um cardápio geral, será específico. E se não for oferecido o que está proposto no cardápio, poderão reclamar", afirma o secretário municipal.

O aplicativo será estendido, ainda, para uma função robótica no Facebook. "No campo da mensagem, um 'robô' vai fazer perguntas e o aluno vai respondendo. Pode-se pedir para receber o cardápio diariamente ou até falar da qualidade e quantidade da merenda", diz.

Para Schneider, o acesso fácil vai facilitar a comunicação entre alunos/pais e a escola/secretaria. "Antes, o pessoal não reclamava, muitas vezes por não ter um canal tão direto. Muito dos problemas que tivemos tiveram a ver com falhas na comunicação. Resolvemos conversando. O aplicativo terá essa função também", afirmou o secretário.


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