Folha de S. Paulo


Sem 40% do corpo, DJ se adapta bem a nova prótese e atinge 1,70 m de altura

Patricia Stavis/Folhapress
DJ Renildo Santos Silvia, 35, que sofreu uma amputação severa e perdeu 40% de seu corpo (inclusive órgãos internos), vai ganhar hoje sua prótese corporal definitiva. Ele testa a prótese que vai o deixar com 1,60 e que conta com pernas, pés, joelho.
DJ Renildo Santos Silvia, 36, que sofreu uma amputação severa e perdeu 40% de seu corpo

O DJ Renildo Silva Santos, 36, passou por um drástico procedimento médico e retirou 40% de seu corpo. Agora, mais uma vez surpreende os médicos e, em tempo recorde, já se adaptou a uma prótese corporal funcional que o deixa com 1,70 m de altura. A previsão era a de que ele demorasse até um ano para ser "reconstruído", mas foram apenas cinco meses.

A Folha revelou o caso em março deste ano, quando Renildo ainda iniciava o processo de reabilitação, que é inédito no mundo, e se adaptava a uma espécie de cesto feito em material semirrígido, para acomodar o tronco, ligado a hastes de metal, as stubbies, simulando as pernas. À época, ele estava com 1,14 m.

Uma série de feridas e infecções na região glútea fizeram que, em 2016, o DJ tivesse de se submeter, no HC de São Paulo, à hemicorporectomia, nome técnico da cirurgia que amputou do umbigo para baixo, retirando ou reorganizando órgãos internos. À época, o risco de morte no procedimento, que foi um sucesso, era de 85%, o mesmo que ele corria se não fizesse a cirurgia, pois começava a desenvolver um câncer.

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"A atual condição clínica do Renildo é ótima. Ele continua fazendo reposição hormonal e tomando medicamentos de controle, apenas. A prótese não provocou nenhuma ferida, o que era uma preocupação. Ele é precoce, quebra expectativas, tem muita vontade de viver. É um caso único", diz André Sagawara, fisiatra na Rede Lucy.

Com a prótese atual, que pesa 3,8 kg, Renildo consegue solucionar a questão que mais o incomodava: a estética. Feita com uma espuma especial, ela simula pernas, pés, joelhos e coxas de maneira verossímil. Embora já consiga dar alguns passos, com ajuda de barras de apoio, andar com o equipamento ainda não é um objetivo do DJ.

"Estou muito feliz. O resultado ficou bem melhor do que eu pensava e do que era planejado. Recebi também da Rede Lucy uma cadeira motorizada, o que me deu uma enorme independência. Estou até tirando carteira de motorista. Quero ter um carro", declara Renildo.

SEM LIMITES

A reabilitação do DJ é a mais bem documentada do mundo e foi recebida com entusiasmo em uma apresentação para a Organização Mundial da Saúde, em Genebra, na Suíça, no mês passado.

"Quem determina os limites de até onde pode evoluir é o paciente, não a equipe médica. O que foi feito para o Renildo, que tem uma trajetória de vida muito difícil, já tem reflexos para outras pessoas que estão nos procurando", diz o fisiatra Sagawara. Desde os 12 anos, o DJ é paraplégico, após ter tomado um tiro ao subir em um telhado para pegar uma pipa.

Como não teve cuidados médicos adequados, foi desenvolvendo úlceras de pressão, que são feridas na pele provocadas pelo contato intensivo com superfícies, como camas e assentos. Ao longo dos anos, as feridas deixaram de cicatrizar e passaram a comprometer de forma geral a saúde do DJ.

Com a cirurgia de amputação, as funções fisiológicas dele foram transferidas para bolsas coletoras que se ajustam à prótese. Segundo a equipe médica, Renildo ainda precisa de um intenso treino de marcha para ficar seguro com a prótese definitiva. Espera-se que ele use a cadeira de rodas para fazer percursos mais longos e as pernas artificiais para trechos curtos ou mesmo para ficar em pé, no trabalho.

"Quero buscar cada vez mais independência e trabalhar muito para realizar meus sonhos. Serei eternamente grato a minha mulher, Lucy, que sempre esteve ao meu lado, ao grupo de cirurgia do Icesp [Instituto do Câncer de São Paulo, ligado ao HC] e à equipe do Lucy Montoro."

O Homem Reconstruído


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