Folha de S. Paulo


Entidades de imprensa criticam Doria por recentes ataques a jornalistas

Reprodução/Facebook
Prefeito João Doria (PSDB) questiona reportagem da Folha
Prefeito João Doria (PSDB), em vídeo em que questiona reportagem da Folha sobre doações oficiais

Associações representativas da imprensa repudiam a forma como o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), tem conduzido sua relação com profissionais da área e veículos jornalísticos. O tucano disputa com o governador Geraldo Alckmin (PSDB) a vaga de candidato do PSDB ao Palácio do Planalto em 2018.

As críticas, veiculadas nesta quarta-feira (6) pela rádio CBN, foram feitas por representantes de Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão), Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) e ANJ (Associação Nacional de Jornais). Todos se referem a episódios nos quais o prefeito tucano partiu para o confronto aberto contra jornalistas.

No caso mais recente, na última segunda (4), o prefeito inicialmente se negou a responder à pergunta do repórter Pedro Durán, da CBN, a respeito de uma ação de limpeza da prefeitura na Praça da Sé em julho –após a madrugada mais fria do ano, moradores de rua teriam sido atingidos por jatos de água lançados por equipes municipais.

Ao ser indagado pelo repórter, Doria respondeu com outra pergunta. "Você é jornalista há quantos anos? Responda!" Em seguida, atacou a jornalista Camila Olivo, também da CBN, que acompanhou a ação na Sé. O prefeito a acusou de ter "passado ideologicamente comprometido com o PT" e de ter mentido.

"Eu respeito o jornalismo da CBN, mas não respeito o trabalho dessa moça. Primeiro pelo seu passado ideologicamente comprometido com o PT, sua vivência com o PT e a sua falta de equilíbrio para colocar uma matéria que não foi correta. Então, não cabe aqui fazer juízo sobre o prefeito regional, cabe fazer juízo ao trabalho jornalístico dessa repórter, que mentiu e colocou uma informação falsa no site da CBN e na rádio. Estou afirmando, não estou supondo, a repórter mentiu e agiu de má-fé."

Segundo a CBN, Olivo nunca trabalhou para o PT nem teve qualquer movimento próximo ao partido. A emissora afirma que as declarações do prefeito seriam baseadas em "boato espalhado por grupos e veículos que produzem as chamadas 'fake news', ou notícias falsas, e que apoiam João Doria."

Não foi a primeira vez que Doria voltou a artilharia contra um profissional da imprensa. Em julho, ele gravou um vídeo nas redes sociais tentando desqualificar uma reportagem da Folha que questionava as informações oficiais a respeito das doações recebidas pela prefeitura. Na ocasião, o prefeito citou nominalmente o repórter que assinava o texto e marcou seu perfil no Facebook, o que ensejou uma série de ataques de seus seguidores contra o jornalista.

Procuradas pela CBN, as associações de imprensa reagiram negativamente a mais esse confronto entre Doria e jornalistas. A Abraji afirmou em nota que, ao "desqualificar o jornalismo, em vez de responder aos questionamentos, Doria nega à sociedade o direito democrático de vigiar os atos dos administradores". A entidade repudia "tentativas de intimidação virtual que podem se transformar em agressões verbais e físicas."

O diretor-geral da Abert, Robert Antonik, criticou o fato de Doria tentar descredenciar os jornalistas associando-os a grupos ideológicos. "Essas pessoas que alegam que estamos comprometidos com uma facção ou outra, estamos sim, estamos comprometidos com a facção da notícia, com a facção do fato, do jornalismo profissional, com responsabilidade editorial. Quando você publica algo na rede social, você não tem responsabilidade editorial, não tem ninguém que arque com aquilo que foi dito. Copia e cola na rede social sem responsabilidade nenhuma."

A presidente da Fenaj, Federação Nacional dos Jornalistas, Maria José Braga, também critica a reação de Doria. "É muito comum que o gestor público, quando é criticado, não no sentido pessoal, mas no apontamento de falhas no trabalho como gestor público, em vez de dar uma resposta satisfatória à sociedade, tentar agredir verbalmente e desqualificar o trabalho do jornalista."

O diretor-executivo da Associação Nacional de Jornais, Ricardo Pedreira, afirmou que é lamentável que uma autoridade se volte de maneira sistemática contra jornalistas, estimulando o comportamento de outros em relação aos próprios jornalistas. Ele diz ainda que o homem público deve saber lidar com as críticas e corrigir eventuais erros.

Por meio de nota, enviada em resposta a um pedido de entrevista da CBN com Doria, a prefeitura informou que "o prefeito considera o trabalho da imprensa essencial para a democracia e para o aperfeiçoamento de políticas públicas, e sabe que a crítica, quando procedente e justa, colabora para a correção de eventuais falhas."

Também consta na nota que Doria "acredita que, como autoridade pública e como indivíduo, também possui o direito de reagir à crítica quando considera ela injusta e improcedente."


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