Quando compôs a ópera "II Guarany", o maestro Carlos Gomes talvez não tivesse imaginado que os seus mais famosos intérpretes não seriam barítonos ou tenores –embora também se destaquem pela beleza da voz.
De segunda a sexta, durante 35 anos, João Marques, um dos locutores de "A Voz do Brasil", esperou a deixa marcada pelo fim da música tema do programa para, às 19h30, apresentar o "Jornal do Senado" (que, dentro do noticiário, vem na sequência dos Poderes Executivo e Judiciário).
Anunciar o expediente da casa legislativa não foi a primeira experiência de Marques em programas oficiais. Pode-se dizer, inclusive, que ele talvez tenha sido o único locutor da história a ser a voz oficial de dois países diferentes.
Nos anos 1950, quando aventurava-se nos Estados Unidos, Marques conseguiu uma vaga temporária como locutor do programa análogo ao que o consagrou no Brasil: "A Voz da América".
Apesar de não ter o inglês fluente de um ator shakespeariano, sua voz grave e o domínio das técnicas de locução –desenvolvidas no Rio, onde apresentava noticiários e programas vespertinos– fizeram com que, de forma improvável, ele assumisse o posto. Não tinha visto de residência e teve que voltar.
Foi para Brasília em 1961 e conduziu o "Jornal do Senado" de 1974 a 2009.
Era lembrado pelos colegas como elegante e paciente. "Sua voz dava credibilidade a qualquer texto", lembra a jornalista Iza Barreto.
Morreu no dia 25, aos 84 anos, após um infarto. Já estava internado por conta de uma pneumonia. Deixa mulher e quatro filhos.
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