Folha de S. Paulo


Com fiscalização frágil, embarcação de tragédia em rio do PA navegava ilegal

Adriano Vizoni/Folhapress
Operação de resgate dos corpos dentro do barco Capitão Ribeiro, nas águas do rio Xingu
Operação de resgate dos corpos dentro do barco Capitão Ribeiro, nas águas do rio Xingu

O barco Capitão Ribeiro, que naufragou na última terça (22) e deixou um saldo de 23 mortos, não tinha registro no órgão responsável do governo paraense para transportar passageiros.

Há três anos, informava à Marinha que ia apenas de Santarém a Prainha, trajeto de 170 km rio abaixo. No entanto, sem nenhum incômodo, a embarcação seguia semanalmente até Vitória do Xingu, percurso que passa da casa dos 500 km.

Pescadores e moradores que viajam com frequência pelos rios do interior do Estado dizem que a fiscalização é quase inexistente e reclamam da pouca presença da Marinha. Dizem ainda que é comum a ação de piratas.

É o caso de Abel da Gama, 40, que vive em Porto de Moz e freta uma lancha há dez anos. Ele abriu uma microempresa para fornecer notas fiscais. "A gente tenta fazer tudo certo", diz ele, "mas nem sempre dá".

Ele está há dois anos com a carteira vencida e não a renova porque, para isso, precisa ir a Santarém ou a Macapá, o que lhe tomaria dias de trabalho.

"Em dez anos aqui, vi a Marinha parar só duas vezes, para fazer treinamento. De resto, só de passagem", afirma Gama.

Depois da tragédia, a presença da Marinha ficou mais firme, diz Antônio Souza, também barqueiro, em Santarém. "Parece que a gente fica esquecido aqui. Eu mesmo nunca tinha visto tanto agente quanto agora."

O dono do barco, Alcimar Almeida da Silva, admitiu em depoimento à Polícia Civil que tinha problemas de regularização e que não tinha autorização para transportar passageiros.

A Arcon, órgão paraense que faz a gestão dos sistemas de transporte, diz ter notificado a empresa –que afirma não ter feito a regularização "em razão da crise e por estar em fase de 'experimentação'".

A Marinha não respondeu aos questionamentos da reportagem. Em notas anteriores, o órgão informou que nos últimos dois anos autuou 31 embarcações com excesso de passageiros.

Naufrágio no rio Xingu


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