Folha de S. Paulo


Maioria dos moradores de favelas com UPP querem que ação continue

A maior parte das pessoas que moram em favelas no Rio onde há UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) acham que o projeto foi mera "maquiagem". Ainda assim, querem que ele continue —mas com mudanças.

É o que mostra pesquisa do Cesec (Centro de Estudos de Segurança e Cidadania), da Universidade Cândido Mendes, divulgada nesta terça-feira (22), sobre a opinião de moradores a respeito do programa, instalado em 2008 para retomar áreas dominadas pelo tráfico e aproximar a população do Estado.

Em meio à crise pela qual passa o Estado, o projeto está em xeque, com muitos confrontos entre policiais e traficantes e muitos casos de inocentes vitimados.

A pesquisa foi feita com 2.479 pessoas de 16 anos ou mais, entre os dias 8 de agosto e 25 de outubro de 2016, em 37 das 38 favelas com UPP no Rio.

Seus números mostram que, para grande parte dos moradores, a instalação da UPP não modificou de forma significativa seu cotidiano. Ao serem indagados sobre aspectos positivos e negativos do projeto, entre 55% e 68% disseram que "não faz diferença".

Daniel Marenco/Folhapress
Policiais no morro do Mandela, na zona norte do Rio de Janeiro
Policiais no morro do Mandela, na zona norte do Rio de Janeiro

Para 44% dos moradores, a UPP não fez diferença na sensação de segurança; para 35,8%, a sensação de segurança aumentou depois da instalação da UPP. Outros 16,8% avaliaram que era mais seguro antes da chegada das unidades.

Entre as críticas estão tiroteios frequentes, mortes, aumento de aluguéis e êxodo de moradores. Entre os aspectos positivos foram citados maior acesso a serviços públicos e privados, obras de infraestrutura, projetos sociais e oportunidades de trabalho.

Luiz Soares, 44, morador de Manguinhos que esteve presente no evento de divulgação da pesquisa, acha que, mesmo com todos os problemas, as pessoas preferem que a UPP continue porque com ela vieram algumas melhorias em serviços públicos. "Antigamente não tinha retirada de lixo, iluminação. As pessoas temem que, se a UPP sair, perderemos isso também".

"A gente tem a impressão de que a UPP foi um projeto passageiro, uma maquiagem visando diminuir a violência para a Copa e a Olimpíada. Estamos vendo o fim dele agora. No entanto, foi a única referência de suposta melhoria que vimos nos últimos anos", diz Ricardo Fernandes, 28, morador da Cidade de Deus.

A pesquisa mostrou que a opinião dos moradores varia em diferentes áreas da cidade e de acordo com o perfil do entrevistado.

Mulheres são mais favoráveis à permanência da UPP do que os homens (66 a 58%) e brancos, mais do que negros (70 a 61%). Os mais jovens tendem a ser mais críticos ao projeto. UPPs de favelas menores são mais bem avaliadas. Moradores da região central e da zona sul são os que mais acham que a UPP trouxe melhorias (48%). Os da zona oeste são os que menos acham isso (23%).

MUDANÇAS

Entre as modificações necessárias para a permanência das UPPs e apoiadas pelos moradores estão: fim das incursões violentas da polícia; melhor treinamento dos policiais; punição de desvios; melhores condições de trabalho para os policiais; mais oferta de serviços públicos.

"A maioria dos moradores quer a permanência da UPP, mas não de forma incondicional, e sim com profundas correções de rumo. Ou seja, o que eles parecem desejar nada mais é do que a retomada do projeto original das UPPs", diz uma das responsáveis pela pesquisa, Leonarda Musumeci.


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