A cidade de São Paulo já acumula entre janeiro e julho deste ano 552 mortes no trânsito (ou 2,38 por dia). O número é cerca de 2% maior em relação ao mesmo período do ano passado. O número de ciclistas, pedestres e motociclistas mortos impulsionaram essa alta. Os dados são do Infosiga, do governo do Estado.
O número de ciclistas mortos na capital paulista aumentou 64% nos primeiros sete meses de 2017, a maior variação no período. As mortes, que saíram de 14 para 23, estão quase que totalmente fora do centro expandido (a exceção é a morte de um homem na avenida Indianópolis, em junho). Elas se espalham pelas nas zonas norte (8), leste (4) e sul (7) da cidade. O sistema do governo paulista não informa a localização de outras três mortes. Pelo menos duas delas, na avenida Imperador e na avenida do Contorno (ambas na zona leste) ocorreram em trechos com ciclovia, onde supostamente o ciclista deveria estar mais protegido de colisões.
Para William Cruz, criador do projeto Vá de Bike, que incentiva o uso seguro de bicicletas no trânsito, a resposta para o crescimento de mortes não está na mudança da estrutura cicloviária. Segundo ele, o clima de disputa entre bicicletas e motoristas pelo uso das ruas se acentuou ao longo de 2017. "Há um clima 'anticiclovia' desde a última eleição. A questão passou a ser muito partidária. E o ciclista que anda todos os dias nas ruas de São Paulo percebe maior tensão e maior ameaça dos motoristas", conta Cruz.
Segundo ele, o clima de tensão é aumentado com declarações do prefeito João Doria (PSDB) que relacionam a presença de ciclovias em frente a lojas da cidade com a subsistência dos comerciantes. Durante a campanha, o atual prefeito chegou a declarar sobre ciclovias pouco utilizadas, que "entre a garantia de vida que esse comércio varejista dá a milhares de famílias e uma ciclovia que não é utilizada por ninguém", ele optaria pelas famílias dos comerciantes.
PEDESTRES E MOTOS
O número de mortes de pedestres também cresceu em São Paulo em 2017. O aumento foi de 19%, variando de 208 para 248 mortes no período. Os pedestres são as vítimas mais frequentes do trânsito paulistano e representam 45% das mortes de 2017. Diferente dos ciclistas, as mortes de pedestres estão espalhadas por toda a cidade, incluindo o centro da cidade.
"O pedestre é vítima de todo mundo no trânsito, é o mais exposto. Não tem travessia segura, não tem tempo semafórico adequado", comenta o especialista em segurança em trânsito Horácio Figueira.
O segundo maior perfil de vítimas do trânsito paulistano são os motoqueiros, que também registrou aumento de mortalidade em 2017. As 189 mortes de motociclistas neste ano superam em 10% as ocorridas em 2016. As mortes ocorrem prioritariamente no entorno do centro expandido. De acordo com especialistas, esse fato comprova que a fiscalização da Polícia Militar e da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) não deve ser centralizada.
Segundo Horácio Figueira, o aumento de mortes de condutores de motos na maioria das vezes resulta do uso inadequado do veículo. "Ainda que as motos fossem guiadas por monges budistas, as motos colocariam seus condutores em exposição ao risco, já que é um veículo que não oferece proteção. Imagine se, em vez de monges, colocarmos sobre as motos condutores mal preparados e com a noção de que têm que cumprir seus trajetos de maneira urgente", analisa. Horácio aponta ainda que, apesar da capital paulista ter 14% da frota de motos do Estado, tem 44% dos acidentes fatais com esse tipo de veículo.
O aumento de cerca de 2% das mortes na capital paulista estão na contramão dos número do Estado de São Paulo, onde houve redução de cerca de 2%. Apesar da ligeira melhora, o Estado de São Paulo também viu crescer o número de mortes de motociclistas e de pedestres, 13% e 8% respectivamente.
"Há de se ter vontade política para reverter o quadro atual, que é o mesmo em todo o país. Uma sugestão é parar de mandar agentes de trânsito para fiscalizar zona-azul e guinchar carros, deixar de mandar policiais militares para operações delegadas [que fiscalizam comércio ambulante] e para jogos de futebol. Em vez disso, focar em ações que possam verdadeiramente reduzir o número de mortos na cidade. Fiscalizar infrações tão comuns nas ruas de São Paulo e que não são fiscalizadas", analisa Horácio. "Enquanto políticos e gestores de transito do país estiverem preocupados em não incomodar seus eleitores, teremos mortos e mutilados, e não multados".
Sobre o aumento de mortes no trânsito paulistano, a CET (responsável por gerenciar o trânsito da capital paulista) disse monitorar permanentemente a capital e que está implantando medidas para aumentar a segurança viária. Apesar disso, a CET disse que usa os dados do Infosiga, do governo Estadual, apenas como um dos dados disponíveis para suas análises.