Folha de S. Paulo


Jacarezinho, no Rio, tem primeiro dia sem conflito após mais de uma semana

André Luiz Medeiros tinha 32 e era moto-taxista. Sebastião Sabino da Silva, 46, vendia verduras. Bruno Guimarães Buhler, 32, era policial.

Os três foram baleados durante tiroteios que aterrorizam moradores do complexo do Jacarezinho, na zona norte do Rio, desde o último dia 11.

Os confrontos começaram em operação contra o roubo de cargas no local. Agente do Core (Coordenadoria de Recursos Especiais, unidade da Polícia Civil), Bruno foi baleado durante a ação. É parte de uma lista de 97 policiais mortos no Rio em 2017, 21 deles em serviço. Houve registros de tiroteios no complexo pelos oito dias seguintes.

André Luiz foi baleado na mesma sexta e morreu cinco dias depois. Sebastião trabalhava em sua barraca, na terça (15), quando foi atingido.

No sábado (19), mais duas vítimas. Georgina Maria Ferreira, 50, foi baleada na cabeça e levada à UPA (Unidade de Pronto Atendimento), mas não resistiu ao ferimento. Antes, a UPA havia recebido um corpo de um homem, que foi identificado apenas como Hugo.

Neste domingo (20), o complexo teve o primeiro dia sem registros de tiroteios. De acordo com o presidente da ONG Rio de Paz, Antônio Carlos Costa, foi a primeira vez desde o início dos confrontos que o lixo pode ser recolhido. Com a trégua, um transformador de eletricidade atingido foi trocado.

"Deixou de ser uma questão de segurança pública e virou uma guerra. As pessoas estão vivendo sob o espectro do medo", diz Costa.

Durante a semana, moradores realizaram atos para pedir o fim dos tiros. Além dos caveirões, a polícia tem usado um helicóptero. Costa diz ter visto a aeronave em voo rasante disparando uma rajada de tiros. "Não tem estratégia, não tem meta, não tem nada", questiona ele.

Com uma área de 440 mil metros quadrados, o complexo sedia desde 2013 uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora). No mesmo ano, foi instalada Cidade da Polícia, que reúne um conjunto de delegacias especializadas.

HOMENAGEM

Na manhã deste domingo, familiares e amigos prestaram homenagem ao policial Buhler na praia do Recreio, na zona oeste da cidade.

Os amigos surfistas fizeram uma corrente com suas pranchas no mar. Na areia, foram estendidas faixas, uma delas lembrando do número de policiais mortos neste ano e pedindo justiça. A polícia identificou quatro suspeitos.

Fotomontagem
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Clique na fotomontagem e saiba as circunstâncias da morte de cada um dos policiais

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