Folha de S. Paulo


Centro de convenções e museus milionários definham na USP

Depois de R$ 120 milhões já gastos, não há estimativa de prazo para se retomar a obra do Centro de Convenções da USP. Para terminar a construção, parada no início de 2014, seriam necessários outros R$ 60 milhões.

Outra obra parada desde então é a da Praça dos Museus, também no campus da Cidade Universitária, na zona oeste de São Paulo. Foram gastos com ela R$ 37,9 milhões; em 2015, estimava-se que faltavam quase R$ 170 milhões para concluí-la.

Também está no limbo o projeto da Residência para Estudantes Estrangeiros, anunciada em 2012, para tentar ampliar a internacionalização do alunado -um dos pontos fracos da USP em qualquer ranking internacional. O prédio cedido pela prefeitura no centro da cidade, que abrigaria os alunos de fora, foi invadido por integrantes de movimentos de moradia.

O Centro de Convenções foi anunciado como uma maneira de a universidade economizar com o aluguel de espaços fora do campus, para a realização de congressos e seminários. Com 36 mil m², três auditórios, com capacidades para 1.450, 620 e 218 lugares, mais uma sala de projeções, com 157 lugares, áreas para restaurantes e lanchonetes, e três pavimentos de garagens, foi projetado em 2011 pelo arquiteto Paulo Bruna.

Desde que a obra foi paralisada, a universidade já abriu duas licitações para conceder o espaço à iniciativa privada, mas não surgiram interessados.

Centro de convenções e praça dos museus na USP

O contrato de concessão incluía a conclusão da obra em, no máximo, 12 meses.

Os projetos vêm de um tempo em que parecia sobrar dinheiro e faltar planejamento à universidade.

"Infelizmente não há nenhum hotel perto dali, o que complica a realização de convenções, e os operadores privados pedem mais espaços para áreas expositivas, que não estavam previstas", diz o arquiteto Paulo Bruna. "Mas seriam coisa fáceis de se fazer ou se adaptar, para que o centro tenha uso algum dia."

Por enquanto, o prédio está embalado com lona para protegê-lo dos desgastes após três anos de obra parada.

A Praça dos Museus, que iria abrigar as novas sedes dos museus de Arqueologia e Etnologia e o de Zoologia, ganhou também, no fim do ano passado, alguns serviços de conservação e manutenção para preservar o concreto e as estruturas metálicas utilizadas na obra.

"É um primeiro passo, pois sairia muito mais caro tentar recuperar esses materiais se não forem protegidos", diz a arquiteta Renata Semin, do escritório Piratininga.

Os metais da futura passarela ligando os museus foram preservados -por enquanto, apenas um esqueleto. A estrutura do museu de arqueologia já está em pé, enquanto o de zoologia mal chegou no primeiro andar.

O projeto foi encomendado ao arquiteto Paulo Mendes da Rocha no início da década passada, que o desenvolveu em parceria com o escritório Piratininga.

A partir de 2010, na gestão do reitor João Grandino Rodas, foi retomado. Com a deterioração das contas da USP, o sucessor de Rodas, o atual reitor, Marco Antonio Zago, paralisou as obras.

Assim como os novos museus ainda no início da construção, o museu do Ipiranga, que pertence à universidade, encontra-se fechado.

A previsão é que só seja reaberto em 2022, quando se comemoram os 200 anos da Independência, celebrada naquela área. Estima-se que a reforma iniciada em 2013 do Museu Paulista, seu nome oficial, custe R$ 100 milhões, quase cinco vezes mais do que a previsão original.

Neste ano, estima-se que 97% do orçamento da universidade será gasto com a folha de pagamento dos mais de 20 mil funcionários. O orçamento anual é de R$ 5 bilhões. Os repasses do governo do Estado para a USP passaram de R$ 2,89 bi em 2009 para R$ 4,54 bi no ano passado.


Endereço da página:

Links no texto: