Folha de S. Paulo


'Não somos poucos', dizem ativistas do parque Augusta para rebater empresa

Danilo Verpa/Folhapress,Cotidiano
Vista aerea do Parque Augusta. Um avanco nas negociacoes entre a Prefeitura de Sao Paulo e construtoras deve abrir caminho para a criacao do Parque Augusta, no centro da cidade.
Vista aérea da região do Parque Augusta, no centro de São Paulo

Ativistas do Movimento Parque Augusta divulgaram nota em repúdio às declarações de Antonio Setin, dono da construtora Setin, em entrevista publicada sexta-feira (11) na Folha.

O movimento criticou as declarações do empresário, que chamou os ativistas de "meia dúzia de meninos sustentados pelo papai".

"Não somos poucos, muito menos meia dúzia, e cada um entende que os objetivos em comum devem ser muito bem articulados para afastar do parque Augusta a máquina oportunista dos especuladores mobiliários", afirmam.

Segundo o movimento, a obstinação dos ativistas foi fundamental para impedir o avanço do mercado imobiliário sobre a última área verde da região central de São Paulo.

Os ativistas questionam também as declarações de Setin quanto à diferença entre os valores pagos e os declarados em registro do cartório imobiliário, acusando a construtora de "maquiagem financeira beirando a sonegação fiscal".

Na entrevista, Setin afirmou que, por se tratar de uma aquisição em permuta, a escritura "não reflete o valor total de imediato, porque a contabilidade vai ser finalizada com a entrega das unidades prontas ao permutante". O valor de referência utilizado pela prefeitura está em cerca de R$ 120 milhões.

O grupo convocou uma intervenção para o próximo sábado (19), na esquina das ruas Augusta e Marquês de Paranaguá, com o nome "Meia dúzia contra privatização".

O acordo entre as construtoras Setin e Cyrela, donas do terreno, e a prefeitura para viabilizar a implantação do parque Augusta prevê uma troca de terrenos disputados pelo setor imobiliário e contrapartidas que somam R$ 30 milhões das empresas para a construção de equipamentos públicos.

Pelo acerto em vias de conclusão, as construtoras devem trocar a área de 24 mil m² do parque Augusta, avaliada em cerca de R$ 120 milhões, por outra onde funciona a prefeitura regional de Pinheiros, de frente para a marginal Pinheiros.

O acerto encontra-se na reta final, mas os cálculos finais ainda passarão por técnicos do Ministério Público. O projeto também precisará de aval da Câmara Municipal.

Editoria de Arte/Folhapress

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A HISTÓRIA DO TERRENO

1902 - Palacete Uchoa é construído onde hoje é o terreno do parque

1907 a 1969 - Tradicional colégio feminino Des Oiseaux funciona no local

1970 - Prefeitura decreta utilidade pública do espaço para fazer um jardim

1973 - Decreto é revertido pelos proprietários, que anunciam a construção de um hotel

1974 - Palacete é demolido sem autorização; sobra apenas uma casa, hoje tombada

1977 - Construtora Teijin compra o terreno para fazer um complexo hoteleiro, mas projeto naufraga

Anos 80 - Uma lona circense no local abriga o Projeto SP, com shows e atividades

1989 - Decreto de Jânio Quadros obriga a manutenção da área aberta

1996 - O ex-banqueiro do BCN Armando Conde adquire o terreno da Teijin

2004 - Bosque que existe no local é tombado

2006 - Conde anuncia hipermercado, e embate com moradores começa. Ele desiste e decide construir 3 torres comerciais, mas projeto também é rejeitado

2008 - Prefeito Kassab (PSD) decreta utilidade pública do local novamente

2011 - Câmara aprova em 1ª votação criação de parque

2012 - Empresas Setin e Cyrela apresentam seu projeto para a área, com construção de torres

2013 - Decreto de utilidade pública caduca, Cyrela e Setin formalizam compra do terreno, e portões são fechados ao público. Haddad (PT) sanciona lei autorizando a criação do parque

2014 - Em janeiro, Secretaria do Verde e do Meio Ambiente afirma que não tem verba para bancar a construção

2015 - Cerca de 300 ativistas ocupam o terreno por dois meses, enquanto conselho municipal aprova projeto de construtoras para empreendimento. Em abril, Justiça concede liminar para abertura do portão

Abr.2016 - Ação do Ministério Público contra construtoras pede devolução da área e indenização por danos morais coletivos

Out.2016 - Durante a campanha eleitoral, Doria diz ao "Estado de S. Paulo" que parque não sairia do papel: "A prefeitura não vai gastar dinheiro público nisso"

Abr.2017 - Doria anuncia que vai oferecer terrenos públicos às empreiteiras em troca da área do parque

4.ago.2017 - Prefeitura e construtoras anunciam acordo


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