Folha de S. Paulo


Sete meses após massacre, presídio no RN recebe crianças pela primeira vez

A diretoria de Alcaçuz –maior penitenciária do Rio Grande do Norte e palco de massacre de 26 presos durante rebelião ocorrida em janeiro deste ano– permitiu entrada de crianças na unidade pela primeira vez após o conflito.

Nesta semana, na quinta (10) e na sexta (11), mais de cem crianças filhas de presos puderam participar da visita semanal para comemorar antecipadamente o Dia dos Pais.

A liberação ocorreu apenas para visitas dos presos do pavilhão 3 da unidade, o único que já foi totalmente reconstruído e que voltou a ser ocupado após a rebelião. Nessa ala, ficam aproximadamente 400 detentos. As visitas ocorreram das 10h às 13h.

Segundo informações do secretário de Justiça e Cidadania do Rio Grande do Norte, Mauro Albuquerque, as famílias também foram autorizadas a levar almoço para os presos, o que ainda não havia sido permitido desde a rebelião.

Para a visita especial, a pasta reforçou os cuidados com revista dos alimentos e preparou um espaço controlado na área interna do pavilhão para que as crianças pudessem interagir com os pais.

Desde semana passada, a diretoria do presídio intensifica ações de socialização dentro da unidade. "Há uma semana trouxemos um pastor para realizar um culto para os presos evangélicos e estamos aguardando alguém da Igreja Católica para realizarmos uma missa. A nossa intenção é de que esses eventos religiosos ocorram a cada 15 dias e, depois, toda semana", disse Albuquerque.

Além dos 400 presos que ocupam hoje o pavilhão 3, Alcaçuz conta com outros 800 presos apenados que estão no Pavilhão 5. Esses, por uma questão de segurança, não receberam o mesmo benefício para o Dia dos Pais.

ESTRUTURA

Alcaçuz possui cinco pavilhões e todos foram destruídos durante a rebelião que ocorreu entre os dias 14 e 27 de janeiro. Logo após a retomada do controle da unidade, a secretaria de Justiça realizou pequenos reparos no pavilhão 5 e concentrou todos os presos na ala.

Nos últimos seis meses, o governo do Estado investiu R$ 3 milhões e conseguiu reconstruir os pavilhões 1, 2 e 3, mas só ocupou este último. Os pavilhões 1 e 2 só devem ser ocupados em dezembro.

A demora, segundo o secretário de Justiça, é provocada pela falta de agentes penitenciários para atuar na unidade. Albuquerque espera que até dezembro, 571 agentes aprovados em concurso realizado em julho passado sejam convocados e treinados para assumir os postos. Atualmente, 860 agentes penitenciários atuam nas 35 unidades prisionais do Estado.

Já o pavilhão 4, o primeiro a ser atacado na rebelião e o mais depredado durante o conflito, ainda será reconstruído.

Após a rebelião, o governador Robinson Faria (PSD) chegou a anunciar que fecharia o presídio. Nos últimos meses, mudou os planos e a ideia agora é manter e até ampliar a estrutura.

MASSACRE

A rebelião na Penitenciária Estadual de Alcaçuz, que fica em Nísia Floresta, região da Grande Natal, teve início em 14 de janeiro e só foi controlada 13 dias depois. O presídio tem capacidade para abrigar 620 presos, mas estava com 1.150 na época da rebelião.

Pelos números oficiais do governo estadual, 26 presos foram mortos e outros 54 fugiram da unidade. A população carcerária do RN é de aproximadamente 8.000 presos.

PENITENCIÁRIA ESTADUAL DE ALCAÇUZMaior unidade do RN, prisão teve massacre com 26 mortos no dia 14.jan

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