Folha de S. Paulo


Dora de Amarante Romariz (1922-2017)

Mortes: Geógrafa, viu Brasília e outras cidades nascerem

Foram três meses vivendo em uma barraca, numa área de cerrado ainda intocado, no meio do país. Sem nada ao redor, o destaque era a lua, que permitia ler durante a noite, mesmo sem a ajuda da lanterna ou do lampião. Era assim que Dora de Amarante Romariz descrevia seus dias na capital federal nos anos 1940.

Com apenas 25 anos, a geógrafa participava dos trabalhos de campo para escolher onde seria Brasília. "É impressionante ver uma cidade nascer", resumiu Dora em entrevista 65 anos depois, citando a lua que a impressionou.

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Dora de Amarante Romariz (1922-2017
Dora de Amarante Romariz (1922-2017

Paulistana, foi ainda pequena para o Rio, onde começou a carreira como professora primária. Tinha orgulho do que fazia, mas largou para atuar no IBGE, quando ainda fazia o último ano de História e Geografia na Universidade do Brasil, atual UFRJ.

Séria e dedicada, especializou-se em biogeografia, mas admitia que era difícil fazer seus estudos e pesquisas com a equipe enxuta do instituto. Histórias de seus trabalhos, no entanto, não faltam. Esteve presente quando Maringá (PR) foi decretada município, acompanhou a derrubada da primeira árvore para a construção de Cianorte (PR), estava em um dos primeiros carros a percorrer a via Dutra.

A aposentadoria, nos anos 1970, marcou a dedicação integral de Dora a seus estudos de biogeografia. Chegou a ser convidada pela Unesco para participar da elaboração de um mapa da vegetação da América do Sul, deu aulas, palestras e escreveu dois livros.

Parou só no último dia 4, quando morreu de falência dos órgãos, aos 95. Sem casar, deixa amigos e as famílias dos amigos adotadas como suas.


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