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Antiga 'brizoleta', onde netos de Brizola estudaram, pode fechar no RS

Marcos Nagelstein/Folhapress
Neta do político, a deputada Juliana Brizola (PDT) defende a continuidade da escola de Porto Alegre
Neta do político, a deputada Juliana Brizola (PDT) defende a continuidade da escola de Porto Alegre

Metade dos gaúchos morava no campo e um terço da população era analfabeta quando o então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola (1922-2004), decidiu que todas as crianças deveriam estar matriculadas na escola.

Para isso, Brizola instalou pequenos colégios de madeira a partir de 1959, quando assumiu o governo estadual.

Os alunos ganhavam calçados e material escolar. A educação virou uma bandeira da gestão e 6.000 escolas desse tipo foram erguidas. Os gaúchos batizaram as construções em homenagem ao idealizador: "brizoletas".

Se no interior do Estado várias brizoletas ainda estão em funcionamento no formato original, outras tantas foram ampliadas ou reformadas.

Uma dessas, em Porto Alegre, foi transformada em um prédio que hoje tem até ar-condicionado para os alunos.

Localizada no bairro Bela Vista, área nobre da capital, a Escola Estadual de Ensino Fundamental Maria Thereza da Silveira corre risco de ser fechada para que o terreno seja vendido. "O bairro é rico, mas a maioria dos alunos se desloca da periferia em busca de segurança e qualidade. Eles dizem que gostam daqui porque 'não tem tiro'", diz a diretora, Maria Emília Piovesan.

BRIGA NA JUSTIÇA

Quando deixou de ser uma brizoleta para atender mais alunos, o prédio foi erguido em terreno cedido pelo Instituto de Previdência do Estado do Rio Grande do Sul.

O acordo, porém, nunca foi oficializado. Por isso, o Ministério Público Estadual denunciou a situação e pediu que o terreno voltasse ao instituto. A propriedade é avaliada em cerca de R$ 20 milhões.

A Justiça discordou da Promotoria –disse que a escola deve permanecer no local.

O Ministério Público recorreu da decisão porque entende que o órgão estadual não pode abrir mão de sua receita em um momento de crise.

Os desembargadores, porém, decidiram que a escola pode permanecer no local e que o Estado não precisa indenizar o instituto porque o terreno foi cedido por ter sido considerado obsoleto e para cumprir "função social".

Os dois netos de Brizola estudaram na Maria Thereza. O colégio ainda era uma brizoleta em 1982, quando eles tinham sete anos e foram matriculados. Irmãos gêmeos, seguiram a vocação política do avô. Atualmente, Juliana é deputada estadual (PDT-RS) e Leonel é vereador na capital carioca pelo PSOL. Brizola chegou a governar o Rio de Janeiro de 1982 a 1987.

"Meu avô pensou em colocar uma escolinha de madeira em cada rincão. Educação é investimento, não gasto", lamenta a atual deputada.

O governo de José Ivo Sartori (PMDB) proibiu que novas matrículas fossem feitas em 2017. O resultado é que não há alunos na primeira série, e muitos deixaram o colégio temendo o fechamento. A escola chegou a ter cerca de 300 alunos, mas hoje tem 126.

PERMUTA

Procurada pela Folha, a Secretaria Estadual de Educação disse que "está realizando levantamento patrimonial de seus bens para negociar uma possível permuta com o Instituto de Previdência do Estado do Rio Grande do Sul".


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