Folha de S. Paulo


Sem-teto invadem torre inacabada em Heliópolis projetada por Ruy Ohtake

Rivaldo Gomes/Folhapress
Entrada de conjunto habitacional em Heliópolis que foi invadido por grupo de sem-teto
Entrada de conjunto habitacional em Heliópolis que foi invadido por grupo de sem-teto

Dois grupos de sem-teto invadiram um terreno baldio da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano), da gestão Geraldo Alckmin (PSDB), no Parque Bristol, além de um conjunto de sete prédios inacabados e o entorno de um conjunto habitacional da Secretaria Municipal de Habitação, da gestão João Doria (PSDB), em Heliópolis, ambos na zona sul de São Paulo.

Os sete prédios da prefeitura, apelidados de "redondinhos", foram projetadas pelo arquiteto Ruy Ohtake.

A ocupação do terreno da CDHU ocorreu no dia 22 de julho, e a dos prédios da prefeitura, denominados oficialmente como conjunto Sabesp 1, no dia 27 de maio, de acordo com o líder dos sem-teto, o sindicalista Rafael Cardoso de Oliveira, 29 anos, ligado ao Sindicato dos Motoboys de São Paulo.

Segundo Oliveira, na ocupação do terreno estão cadastradas cerca de 2.000 famílias, com um total de até 6.000 pessoas. O terreno está demarcado e muitos barracos estão parcialmente construídos, porém apenas parte das famílias está ocupando o local. "A ocupação é feita por boca a boca e até por WhatsApp. As famílias são cadastradas e não há cobrança de taxas, é por ordem de chegada", afirma o líder.

Robson Ventura/Folhapress
Aline Gonzaga, com a filha Valentina, em terreno da CDHU invadido por sem-teto na zona sul de São Paulo
Aline Gonzaga, com a filha Valentina, em terreno da CDHU invadido por sem-teto na zona sul de SP

No Sabesp 1 foram instaladas 510 famílias, sendo 200 nos apartamentos. As 310 restantes receberam lotes no entorno onde construíram barracos. "São 2.200 pessoas", disse Oliveira.

O líder dos sem-teto afirmou que a Secretaria Municipal da Habitação esteve no Sabesp 1 e tentou negociar a saída dos ocupantes. "Dissemos a eles que não temos interesse em entrar na fila do auxílio aluguel para receber o benefício um mês ou dois e depois ficarmos ao Deus dará de novo", diz o sindicalista.

Segundo informações do site da Secretaria Municipal da Habitação, as primeiras nove torres dos prédios, projetados pelo arquiteto Ruy Ohtake e apelidados de "redondinhos", foram entregues em 2011. Questionada, a prefeitura não respondeu quantos dos 24 prédios previstos no projeto original já foram entregues para os inscritos nos programas habitacionais.

NA JUSTIÇA

A Secretaria Municipal de Habitação, da gestão Doria, afirmou, por meio de nota que tentou negociar a saída pacífica das famílias no início da ocupação e, sem sucesso, entrou com ação de reintegração de posse do conjunto Sabesp 1.

"O Sabesp 1 beneficiará 152 famílias removidas de áreas de risco que aguardam a conclusão das unidades em auxílio aluguel. Com a ocupação, outros conjuntos que estão concluídos e seriam entregues em 2017 estão prejudicados", disse.

A CDHU, da gestão Alckmin, afirmou, também por nota, que aguarda o cumprimento da reintegração de posse, determinada no dia 27.

SEM ALTERNATIVA

A doméstica desempregada Aline Maria Gonzaga, 37, deu à luz a Valentina, de 27 dias, quando estava morando em um barraco sobre um córrego da região do Parque Bristol, na zona sul. Ela e o marido, o operador de estacionamento também desempregado Vítor Paulo Gonzaga, 38 anos, souberam da ocupação no terreno baldio da CDHU por vizinhos, e foram para lá.

"Eu, meu marido, a bebê e mais duas crianças dormindo com rato passando por cima, tínhamos que livrar a família dessa situação", disse Aline. "Aqui está melhor. Espero que possamos ficar", afirmou a empregada doméstica.

O pedreiro Pablo Santos Marques, 30 anos, está dormindo em seu carro, um Fiat Tempra, há um mês, desde que sua mulher foi para a casa de parentes com o filho de quatro anos. "Estou desempregado há seis meses e não tive mais como pagar o aluguel do barraco na comunidade São João Clímaco", afirmou o pedreiro, enquanto trabalhava em seu novo barraco no terreno da CDHU.

"É morar aqui ou ir para debaixo da ponte. Não posso pagar aluguel", disse o gesseiro desempregado Raimundo Nonato da Silva, 52 anos, que ocupa um barraco no conjunto Sabesp 1, em Heliópolis (zona sul).


Endereço da página: