Folha de S. Paulo


Tradicional mirante de SP, terraço do Martinelli fecha e frustra visitantes

Na primeira visita a São Paulo, o curitibano Ezequias Cloy, 22, tentou, com mais sete primos, ir ao terraço do edifício Martinelli, tradicional mirante no centro da capital paulista, na tarde de terça (25). "A gente queria mostrar a cidade por cima", diz Ellen, 18, prima do paranaense.

Mas Ezequias terá que voltar depois. Para a frustração das dezenas de turistas que passam pelo local diariamente, o terraço do prédio de 30 andares, antes ponto turístico obrigatório para quem ia conhecer o centro histórico da cidade, está fechado para visitação desde que um rapaz se jogou do alto do edifício, em março.

O acesso ao prédio pela avenida São João (uma das três entradas), ponto de encontro das visitações guiadas, fica bloqueado permanentemente, com uma placa que avisa sobre a suspensão. O teto do Martinelli é administrado pela SPUrbanismo, empresa da Prefeitura de São Paulo, e está fechado para "adequação", segundo a administração do edifício.

Ainda não há, porém, previsão para o retorno das visitas nem projeto que determine o que será feito no local para impedir novos acidentes –qualquer reforma que altere a fachada do prédio deve ser aprovada pelo Conpresp, órgão municipal de preservação do patrimônio histórico. A gestão João Doria (PSDB) está estudando conceder a administração do espaço à iniciativa privada.

MIRANTES

O consultor comercial paulistano Gustavo Crosara, 40, passava pelo centro da cidade em um dia "com mais tempo" e por isso resolveu visitar o terraço, que ainda não conhecia, mas também foi surpreendido. "Esses pontos turísticos são muito importantes e é sempre bom ter mirantes urbanos assim. Santiago tem, Buenos Aires tem. São Paulo precisa ter também."

Há outras opções, como o terraço do edifício Itália, na República, região central da capital paulista. Ellen, que levava o primo curitibano para ver a cidade do alto, até pensou em ir até lá, afirma.

"Mas parece que tem que pagar para subir. Olha o tanto de gente só comigo", diz a estudante, apontando para os sete primos, que discutiam outras opções mais em conta. A visita ao terraço do Itália custa R$ 30 por pessoa e acontece todos os dias da semana, das 15h às 19h.

É possível subir ainda no mirante do Copan, prédio histórico projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, também na República. Nesse caso, as visitas são gratuitas e acontecem de segunda a sexta (exceto em feriados), duas vezes ao dia, às 10h30 e às 15h30 –é preciso chegar com 15 minutos de antecedência.

HISTÓRICO

Inaugurado em 1929 pelo empresário italiano Giuseppe Martinelli (que construiu sua mansão no topo do prédio), o edifício homônimo foi o primeiro arranha-céu de São Paulo e, até a década de 1940, o maior imóvel da cidade.

Em seus primeiros anos, o prédio refletiu o boom econômico da capital no começo do século passado e abrigou, entre outros empreendimentos, um hotel, cinema, restaurantes, clubes, sindicatos, partidos políticos e até jornais.

Dos anos 1950 em diante, contudo, o prédio se transformou numa espécie de cortiço e foi palco de uma série de crimes nunca desvendados. Foi preciso intervenção de militares para recuperar o edifício, cujos fossos dos elevadores formavam pilhas de lixo. Nos anos 1970, a prefeitura desapropriou e restaurou o imóvel. Desde a reinauguração, em 1979, ele voltou a abrigar escritórios, restaurantes e órgãos municipais.


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