Folha de S. Paulo


Trens da CPTM voltam a operar após protesto contra reintegração de área

A linha 12-safira da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) voltou a operar no final da manhã desta sexta-feira (7), após um protesto interromper por cerca de duas horas e meia a circulação dos trens.

Uma manifestação de moradores contrários a reintegração de posse de uma área vizinha à linha da CPTM causou o transtorno, que terminou com três pessoas feridas, entre PMs e manifestantes. Em retaliação à medida, os moradores atearam fogo em pneus sobre os trilhos nos dois sentidos da linha, entre as estações Engenheiro Goulart e USP Leste, em Cangaíba, na zona leste da capital paulista.

A movimentação das composições ficou suspensa das 7h50 às 10h20.

A Polícia Militar informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que fez a reintegração de posse de um terreno localizado na rua Curemá. A área, segundo a PM, é particular e pertence ao Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra Leste 1.

Reprodução/TV Globo
Fogo é visto nos trilhos da linha 12-safira da CPTM, na zona leste da capital paulista
Fogo é visto nos trilhos da linha 12-safira da CPTM, na zona leste da capital paulista

TUMULTO

Sob a supervisão dos policiais militares, retroescavadeiras fizeram a derrubada dos barracos. Revoltados, moradores também atearam fogo em terrenos e nas próprias moradias erguidas de forma improvisada no local. A PM chegou a disparar bombas de gás lacrimogêneo para dispersar o grupo da área.

A corporação informou que foi necessário o uso progressivo da força para manter a ordem e cumprir a decisão da Justiça porque "houve resistência por parte de alguns moradores que apedrejaram um trem, atearam fogo em moradias e num trecho da linha", segundo trecho da nota.

No tumulto, dois policiais militares e mais um manifestante ficaram feridos. Não foi informado o estado de saúde deles até esta publicação. Ninguém foi preso.

Os invasores do terreno disseram que tiveram que sair às pressas de seus barracos, com a roupa do corpo, pois os policiais deram apenas "cinco minutos" para retirarem seus pertences.

"Acordei com um monte de policiais batendo e chutando a minha porta. Saí com a roupa do corpo e descalço. A única coisa que consegui tirar foi a minha TV", afirmou o ajudante de funileiro Luís Fernando de Carvalho, 21. Ele disse que morava havia duas semanas em um barraco de madeira.

A autônoma Luciene Dias Prates, 40, disse que se mudou para a área no dia 17 de junho com seu filho de 15 anos. Ela contou que morava em outra área invadida e soube da oportunidade no terreno da rua Curemá.

"Eles deram cinco minutos para sairmos. Como a gente tira uma mudança em cinco minutos? Perdi meus móveis, roupa e os produtos que vendia", afirmou.

A Secretaria Municipal de Habitação informou que as famílias estavam no local havia menos de um mês e não faziam parte de nenhum movimento de moradia organizado.

Após deixarem o local, os ocupantes foram orientados a procurar apoio nos serviços do Creas (Centro de Referência Especializada de Assistência Social), da Penha (zona leste). No terreno alvo da reintegração de posse desta sexta serão erguidas 450 casas pelo Programa Minha Casa Minha Vida.

Por causa da manifestação, a CPTM solicitou à SPTrans (empresa municipal de transportes) o apoio da operação Paese (Plano de Apoio entre Empresas em Situação de Emergência) para transportar os passageiros da linha afetada.

Cerca de 60 ônibus do Paese foram postos em uso entre as estações Tatuapé e USP Leste. Os trens da linha 12 passaram a circular com velocidade reduzida por volta das 10h20. O restabelecimento completo das viagens só ocorreu por volta das 11h20. O problema não se refletiu entre as demais linhas do sistema de trens metropolitanos, segundo a CPTM.

A linha12-safira faz a ligação entre o Brás, no centro, e Calmon Viana, na zona leste. Atende cerca de 230 mil pessoas diariamente.


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