Folha de S. Paulo


Programa de Doria enterra de vez políticas de Haddad na cracolândia

O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), anunciou pela primeira vez as diretrizes do programa anticrack da prefeitura, o Redenção, enterrando de vez o projeto da gestão anterior, o Braços Abertos, de Fernando Haddad (PT).

Ao lado de secretários municipais, ele voltou a afirmar nesta segunda (26) que a cracolândia acabou, ainda que usuários estejam concentrados a uma quadra de onde ficavam há pouco mais de um mês, antes de uma operação policial na região.

Uma das ações do projeto apresentado pela gestão Doria será a "transição dos usuários dos hotéis do programa De Braços Abertos para a nova dinâmica de atendimento", encerrando o programa da gestão anterior, em que usuários recebiam moradia e trabalho. O programa seguia políticas de redução de danos, dando autonomia a usuários sem cessar o uso de drogas, com o objetivo de diminuir sua utilização aos poucos.

O programa apresentado por Doria é semelhante ao da gestão Geraldo Alckmin (PSDB) e preconiza principalmente a internação dos usuários de drogas, com a novidade do acompanhamento via prontuário eletrônico, em parceria com o Hospital Sírio-Libanês. Diferentemente do programa de Haddad, a distribuição de vagas de trabalho será só para ex-usuários, em uma fase posterior à do tratamento.

Sobre a existência da cracolândia e sua mudança de local, Doria disse: "Volto a reafirmar: fisicamente, a cracolândia onde existia, na rua Helvetia com a Dino Bueno, ela não existe mais e não existirá. Não há a menor hipótese dela existir. Fisicamente ela não existe mais. Hoje você tem crianças brincando, pessoas utilizando as calçadas, as ruas, tanto na Dino Bueno quanto Helvétia, livremente".

Usuários de drogas estão a 100 metros do espaço apontado por Doria –na quarta passada (21), migraram da praça Princesa Isabel para a esquina da rua Helvétia com a al. Cleveland. Há pouco mais de um mês, Doria celebrou a ação policial no local coordenada pela gestão Geraldo Alckmin e anunciou que a cracolândia havia acabado.

O tucano admitiu, porém, que "o consumo ainda existe, foi reduzido, mas existe" e que "o tráfico existe, foi reduzido". "O que você tem ali é uma concentração de usuários e uma tentativa frustrada do PCC de reimplantar a cracolândia."

"Estamos muito atentos para a migração do tráfico de entorpecentes", disse o secretário estadual da Segurança Pública, Mágino Barbosa Filho. "Aumentou, mas não na proporção da antiga cracolândia. O fluxo tinha atividade criminosa muito intensa, movimentando R$ 180 milhões por ano só com entorpecentes só naquele ponto."

Segundo a prefeitura, a cracolândia diminuiu para um terço do que ela era antes. Doria não comentou sobre a dispersão de usuários para outras áreas.

Questionado sobre o método de cálculo da prefeitura, o tucano passou a palavra para o secretário de Desenvolvimento e Assistência Social, Filipe Sabará, que disse ser "visível" e que é possível "reparar" na redução de usuários na região. Doria interrompeu o secretário e disse haver não só uma impressão, como uma "contabilidade diária".

De acordo com Sabará, a cracolândia tinha 1.800 pessoas em janeiro deste ano. Agora, diz ele, há entre 300 a 600 pessoas. A gestão Haddad falava em 500 pessoas na região em 2016.

A gestão Doria também anunciou a criação de um programa de apoio direcionado às mães de usuários de crack, chamado Mães da Luz, na rua Líbero Badaró, 119, e a criação de um balcão de direitos humanos no espaço da cracolândia para atender denúncias.

Editoria de Arte/Folhapress

BALANÇO

Segundo a prefeitura, desde 21 de maio, 33.782 abordagens e atendimentos foram feitos nos contêineres emergenciais instalados na região da Luz. Do total, 6.3906 pessoas recusaram atendimento.

Um novo espaço para contêineres será inaugurado na quinta (29), segundo a prefeitura, na praça Júlio Prestes, com capacidade para atender 140 pessoas -o espaço fica ao lado de onde a cracolândia está no momento.

Desde o dia 21 de maio, 619 pessoas foram encaminhadas para internação e tratamentos, diz a prefeitura.


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