Folha de S. Paulo


Ação de limpeza na nova cracolândia de SP tem tumulto, prisões e feridos

vídeo cracolândia

A nova cracolândia do centro de São Paulo foi palco de mais uma confusão na tarde desta quarta (14), com dispersão de usuários no entorno da praça Princesa Isabel. Quatro agente da GCM (Guarda Civil Metropolitana) e usuários de drogas ficaram feridos.

A confusão começou durante uma ação de limpeza. Desde domingo (11), GCM e varredores da prefeitura abrem espaço entre os usuários para a faxina ao menos duas vezes por dia. Viciados dizem que houve retirada de pertences pessoais e agressão a quem estava deitado.

Houve reação, com alguns atirando pedras nos agentes. Um agente da guarda foi atingido com uma pedra na cabeça e fraturou o crânio.

Segundo o comandante da GCM, José Aparecido Cesar Filho, chefe da operação, o tumulto cresceu quando um traficante teria sido identificado e detido –um segundo foi pego com crack e dinheiro. Houve uso da cavalaria e de bombas de gás lacrimogêneo. Cerca de 200 GCMs participaram da operação. Ao menos um usuário que teria atirado pedras foi detido.

Paulo Saldaña/Folhapress
GCM acompanha nova operação de limpeza na praça Princesa Isabel
GCM acompanha nova operação de limpeza na praça Princesa Isabel

A rotina de limpeza da praça faz parte de uma nova estratégia do governo Geraldo Alckmin (PSDB) e da gestão João Doria (PSDB) de impedir a montagem de barracos para, assim, reduzir a estrutura do tráfico. As tendas, agora proibidas, são usadas como esconderijo para a compra e venda de drogas.

Na antiga cracolândia, a 400 metros da praça Princesa Isabel, onde usuários de drogas se concentravam até uma ação policial da gestão Alckmin no mês passado, a faxina era feita no concreto e as barracas eram montadas novamente depois das ações.

Agora, o uso de água com caminhão-pipa na praça transforma a terra em lama, o que dificulta o retorno imediato dos usuários.

"A praça é pública, mas eles só podem ficar na lama", diz Antonio, religioso de uma missão da Igreja Católica que acompanha a situação. "Tiraram as barracas em que eles se escondiam da chuva e só deixaram eles na lama."

Erick Nascimento, 39, que vive na cracolândia, conta que estava sentado no chão com as mãos para cima quando foi atingido por golpes de cassetete nas costas, no braço e na nuca. "Policiais me mandavam levantar, mas não conseguia porque estava tonto por causa das agressões", diz.

Para o comandante da Guarda Civil Metropolitana, usuários são "usados como escudo por traficantes". Por isso, todos os dias, além do lixo, são retirados pedaços de madeira, lonas e objetos que permitem a montagem de barracas nessa praça.

A prefeitura afirmou, em nota, que não houve uma operação programada, mas sim trabalho rotineiro de limpeza, em que traficantes foram flagrados por PMs e GCMs que estavam no local. No momento da abordagem, usuários jogaram pedras contra os guardas, ferindo quatro deles, sendo que dois foram internado, afirma a gestão Doria.

"Lamentavelmente, supostos ativistas aproveitam a prisão dos traficantes para atacar o trabalho de acolhimento aos dependentes que foi quintuplicado nesta semana, com mais de 4.000 pessoas abordadas em três dias por agentes sociais e de saúde", diz a nota.

Em relação às agressões a usuários de drogas, a prefeitura afirma que a GCM nega e que denúncias fundamentadas devem ser encaminhadas à Corregedoria da corporação.


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