Folha de S. Paulo


PF faz operação e prende irmã e cinco filhos de traficante Beira-Mar

A Polícia Federal cumpre, nesta quarta-feira (24), 24 mandados de prisão preventiva contra a quadrilha chefiada pelo traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, preso numa unidade de segurança máxima em Porto Velho (RO).

As prisões fazem parte da "Operação Epístola" e foram autorizadas pela 3º Vara Federal de Porto Velho. O nome da operação se deve à forma como Beira-Mar se comunicava com operadores fora da cadeia, por meio de bilhetes.

De acordo com a PF, Beira-Mar comandava, de dentro da cadeia, uma quadrilha que atuava em tráfico de drogas e outras atividades, como controle de máquinas de caça-níquel, venda de botijões de gás, cesta básica, mototáxi, venda de cigarros e até o abastecimento de água. Balanço parcial aponta a apreensão de R$ 100 mil em espécie, caixas de cigarro e cestas básicas.

A quadrilha controlava essas atividades em treze comunidades de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Beira-Mar tinha colaboradores dentro e fora da cadeia.

Do lado de fora, seus principais colaboradores eram seus parentes. Entre os presos, segundo a PF, estão Alessandra da Costa, irmã do traficante, que foi detida em um condomínio de luxo, onde mora, em Duque de Caxias. Ela é apontada como sendo o braço-direito de Beira-Mar. Recebia mensagens do irmão e administrava seu patrimônio. Seu mandado de prisão foi por organização criminosa e lavagem de dinheiro.

Também foram presos cinco filhos dele e um outro suspeito, antigo parceiro de Beira-Mar, conhecido como "Chapolin", detido no Ceará. No total, dez parentes tiveram a prisão preventiva pedida.

Dentro da cadeia, Beira-Mar contava com o apoio de um vizinho de cela, a quem enviava mensagens em bilhetes escritos à mão. Posteriormente, esse detento os repassava à sua mulher, em visitas, e ela os encaminhava a parceiros de Beira-Mar fora do presídio.

Para viabilizar essa operação, Beira-Mar comprava passagens e alugava casas. Segundo a PF, chegou a gastar R$ 20 mil em passagens aéreas.

Ricardo Borges/Folhapress
Fernandinho Beira-Mar no julgamento por morte de quatro detentos no presídio Bangu 1, em 2015
Fernandinho Beira-Mar no julgamento por morte de quatro detentos no presídio Bangu 1, em 2015

Fora da Penitenciária Federal, os textos eram digitados e enviados por e-mail, colocados em uma "caixa postal morta" (acessada por quem tivesse usuário e senha do e-mail) ou entregues pessoalmente por membros da organização, como familiares e advogados. Durante as investigações, foram interceptados dezenas de bilhetes.

Segundo a PF, a organização criminosa movimentou valores superiores a R$ 9 milhões com o tráfico de drogas e a lavagem de dinheiro. O dinheiro foi localizado em 51 contas bancárias. Nove empresas envolvidas no esquema também tiveram suas atividades suspensas. "O esquema era tentar misturar dinheiro lícito com dinheiro ilícito. Havia empresas de verdade e empresas de fachada", diz o delegado Leonardo Marinho.

Além dos mandados de prisão preventiva, os policiais federais cumprem ainda 13 mandados de prisão temporária, 27 de condução coercitiva e 85 de busca e apreensão nos Estados de Rondônia, Rio de Janeiro, Paraíba, Ceará, Mato Grosso do Sul, além do Distrito Federal.

Na Paraíba foi preso um de seus filhos; no Ceará, o homem conhecido como Chapolin; no Mato Grosso do Sul, há mandado de prisão contra um de seus filhos, mas ele ainda não foi encontrado; no Distrito Federal, foi conduzida coercitivamente uma advogada que o ajudava na ocultação de patrimônio.

A PF diz que o patrimônio de Beira-Mar é de, no mínimo, R$ 30 milhões.

A investigação indica que nove parentes do traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-mar, são servidores do Legislativo municipal de Caxias. A PF cumpriu buscas na Câmara de Vereadores da cidade, no setor de Recursos Humanos. O objetivo é saber quando ocorreram as nomeações e se algum vereador participou da indicação dos parentes do traficante. Uma das nomeadas era a irmã de Beira-Mar. Segundo a PF, o objetivo de Beira-Mar era garantir uma aposentadoria aos parentes.

INVESTIGAÇÕES

As investigações começaram há cerca de um ano com a apreensão de um bilhete picotado em uma marmita encontrado por agentes federais da Penitenciária Federal de Porto Velho, onde Beira-Mar está preso.

Após a reconstituição e exame grafotécnico, atestou-se ter sido escrito pelo líder da quadrilha. Pelo laudo, foi possível identificar ordens dadas pelo traficante a outros integrantes do grupo que estavam soltos.

De acordo com a PF, foram apreendidos cerca de 50 bilhetes redigidos ou endereçados a Beira-Mar que eram entregues por um esquema altamente elaborado e sofisticado para a transmissão de seus recados.

Não há indícios, até o momento, de participação ou facilitação por parte de agentes ou servidores públicos, informou a PF.

Os presos preventivamente em outros Estados serão levados para Rondônia. Beira-Mar também será transferido para outra unidade prisional do sistema federal.

HISTÓRICO

Preso desde abril de 2001, quando foi capturado na selva colombiana por tropas do exército local, Beira-Mar ganhou notoriedade por organizar sua própria rede de distribuição de armas e drogas a partir de conexões com traficantes da América Latina.

Beira-Mar acumula penas que somam quase 350 anos de prisão. No dia 13 de maio 2015, Beira-Mar foi condenado a 120 anos de prisão por ter comandado, em 2002, uma rebelião no Complexo Penitenciário de Bangu, na zona oeste do Rio, quando foram mortos quatro traficantes de uma facção rival.

Em 2013, Beira-Mar foi condenado a 80 anos sob acusação de planejar e ordenar a morte de dois homens na favela Beira-Mar, em Duque de Caxias, município da região metropolitana do Rio, no mesmo ano de 2002. Nesta época, o traficante já estava preso.

O traficante também tem 69,5 anos de condenações por tráfico de drogas e homicídio no Rio de Janeiro, além de condenações em outros Estados.


Endereço da página:

Links no texto: