Folha de S. Paulo


Tumulto na cracolândia tem confronto com a polícia, saque a lojas e até tiros

A cracolândia, no centro de São Paulo, foi palco nesta quarta-feira (10) de tumulto envolvendo usuários de drogas e guardas municipais, confronto com policiais militares, disparo de tiros, barricadas com objetos incendiados e ataques a lojas, que chegaram a ser saqueadas.

A confusão começou após a Guarda Civil Metropolitana deter um homem suspeito de furto de celular na região. A ação resultou em tumulto, e a Polícia Militar foi acionada.

Com a chegada da tropa de choque, moradores de rua colocaram fogo em pedaços de madeira e pneus velhos nas vias. A PM lançou bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo contra usuários de drogas, que atacaram pedras.

Segundo a polícia, houve disparos de arma de fogo em direção aos guardas municipais, e uma pessoa foi atingida no braço (sendo depois socorrida, medicada e liberada).

Durante mais de uma hora de tumulto e correria, um ônibus com passageiros chegou a ser invadido, e comerciantes da rua General Osório e da av. Rio Branco fecharam as lojas com medo do confronto.

Um fotógrafo teve seu celular e carteira roubados. Segundo a PM, um homem foi detido sob suspeita de ter atirado e outro por manter uma garrafa com combustível que teria sido usado nas barricadas.

SAQUES

A confusão foi seguida de ataques e saques a comércios na hora do almoço na região próxima da cracolândia.

"Tinha muita gente, umas 500 pessoas. Eles passaram correndo por aqui e todo mundo começou a fechar as portas", diz Valdevi Azevedo, comerciante da Santa Efigênia, tradicional ponto de comércio de eletrônicos.

Há 36 anos no bairro, ele diz que neste ano é a segunda vez que ocorre a mesma confusão. "Há uns meses foi parecido. Mas era à noite. Eles quebraram vidraças, mas não entraram na loja."

"A porta estava fechada, mas não teve jeito. Eles arrombaram a loja, jogaram tudo no chão. Levaram mercadorias, quebraram os móveis e roubaram dinheiro do caixa", afirma Eliana Oda, dona de uma farmácia quase na esquina das avenidas Duque de Caxias e Rio Branco.

A comerciante, que também teve um dos funcionários agredidos, calcula que perto de 200 pessoas passaram pela rua na hora da confusão.

Outras testemunhas que conversaram com a reportagem disseram que nessas confusões é comum a mistura de outras pessoas da rua com os usuários de drogas da região da cracolândia.

Vizinha da farmácia, uma loja de instrumentos musicais foi uma das mais saqueadas. Os invasores derrubaram muita coisa no chão e saíram levando instrumentos musicais, como guitarras elétricas e teclados eletrônicos. "Não deu tempo de baixar a porta", disse Raimundo da Costa.

Sem querer se identificar, alguns lojistas da General Osório disseram que um dos homens que participou dos saques acabou espancado na rua por outras pessoas.

MORTE

O confronto violento na cracolândia ocorre na mesma semana em que um ex-viciado foi encontrado morto no centro, após ter ido resgatar uma dependente na região.

Para a polícia, a vítima foi morta por traficantes ligados à facção criminosa PCC enquanto buscava uma viciada na cracolândia para interná-la –a pedido da mãe.

Alvo de ações de Estado e prefeitura nos últimos anos, incluindo as gestões de Geraldo Alckmin (PSDB) e Fernando Haddad (PT), a cracolândia ainda mantém feira de drogas a céu aberto, com barracas que agrupam moradores de rua, viciados e traficantes.

A gestão João Doria (PSDB) prometeu começar a acabar com a cracolândia ainda neste semestre, em parceria com Alckmin para a recuperação do espaço e atendimento dos viciados por meio de um novo programa, batizado de Redenção.


Endereço da página:

Links no texto: