Folha de S. Paulo


Estudante processa ex-reitora da PUC-SP por ligá-lo à prática de crimes

Gabo Morales - 04.out.12/Folhapress
Fachada da PUC-SP, na região de Perdizes; estudante processa ex-reitora da instituição
Fachada da PUC-SP, na região de Perdizes; estudante processa ex-reitora da instituição

A ex-reitora da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) Anna Maria Marques Cintra se tornou ré em uma ação judicial, aberta por um estudante, por ter enviado o nome dele à Secretaria da Segurança Pública e o exposto em um mailling da instituição.

Cauê Seignemartin Ameni, ex-aluno de ciências sociais, afirma que houve "perseguição política" e pede, no processo, retratação pública e R$ 200 mil por danos morais.

Ele participava do movimento estudantil na universidade e havia convocado um ato nas redes sociais, em 2014, em apoio à eleição de Dilma Rousseff (PT), razões que, segundo ele, motivaram a reitora a ligá-lo à prática de crimes.

A ação foi aceita pelo juiz Sidney Tadeu Cardeal Banti, da 3ª Vara Cível do Foro Regional da Lapa, no final de abril e publicada no último dia 2.

No processo, o advogado do estudante, Hugo Albuquerque, declarou que o cliente teve "sua imagem, nome e honra expostos, atacados e vilipendiados em virtude de denúncia infundada".

Em ofício à Secretaria da Segurança Pública, do governo estadual, em outubro de 2014, a então gestora da PUC-SP citou o nome do aluno por realizar um evento que sugeria "incitação de violência, vandalismo e consumo de drogas".

Tratava-se de uma festa, cujo mote era o segundo turno das eleições presidenciais. O evento, porém, não aconteceu porque o campus que receberia a festa foi fechado no dia pela administração.

De acordo com Ameni, a ideia era, além de apoiar Dilma, satirizar o discurso de proibição ao consumo de drogas por parte da então reitora. O convite da festa no Facebook dizia: "Não criminalizamos drogas, pelo contrário, gostamos delas".

O aluno foi chamado para depor à polícia em março de 2015, por supostamente praticar condutas ilegais no evento. Segundo seu advogado, a queixa se baseava em uma imagem do convite na rede social.

Depois, o estudante escreveu um artigo em um jornal da universidade dizendo que Anna Cintra "jogava a polícia contra seus desafetos sem nenhuma prova".

Dias depois, a gestora usou o mailing da universidade para responder, citando o estudante. Disse que "tinha obrigação de informar as autoridades responsáveis pelo combate ao crime".
Procurada, a PUC-SP declarou que não vai se manifestar. A ex-reitora Anna Cintra, por sua vez, disse que ainda não foi notificada e que não iria comentar o caso. Segundo ela, o assunto é "um problema da instituição".

ELEIÇÃO CONTROVERSA

Anna Cintra, que estava no cargo até 2016, assumiu o comando da PUC-SP no final de 2012, após eleições controversas. Ela foi nomeada para o posto estando em terceiro colocado numa lista tríplice enviada ao grão chanceler da universidade, dom Odilo Pedro Scherer.

No início dos anos 1980, a universidade foi uma das primeiras do país a realizar eleições para reitor, durante o regime militar. Na época, a instituição ficou conhecida por abrigar e proteger professores e estudantes ameaçados pela ditadura.


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