Folha de S. Paulo


Após sequestro da mulher, empresário diz que se mudará para a África do Sul

Deic/Divulgação
Ação policial desmontou cativeiro na zona leste de SP
Policial imobiliza criminoso em cativeiro na zona leste de SP onde mulher foi mantida

O empresário Rocelo Lopes, 44, dono da CoinBr, a maior empresa da América Latina para o comércio de criptomoedas, contou à Folha como foram os momentos entre o sequestro e a libertação de sua mulher, de 32 anos, na semana passada.

Atacada em Florianópolis na última quarta (26), a mulher foi levada até uma casa no Cangaíba, bairro da zona leste da capital paulista, onde ficou em poder do bando até o último sábado (29).

Apesar do sucesso da ação policial, a notícia do crime trouxe preocupação à segurança pública do país pela forma como os criminosos exigiam o pagamento do resgate: via criptomoedas.

Conhecido genericamente no mundo digital como bitcoins, esse dinheiro digital é utilizado para compras legais de produtos, mas também para diferentes transações ilegais.

Leia o depoimento a seguir.

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Quando meu telefone tocou, na tarde de quarta, a pessoa do outro lado disse: 'Não desliga, nós estamos com sua esposa, e a gente quer receber 240 mil Zcash e 900 mil Moneros para libertá-la'.

Como eram valores tão absurdos, pensei que fosse um trote. Então disse: 'Tá bom'. E desliguei o telefone.

Imediatamente, tentei falar com minha mulher, mas não consegui contato com ela, enquanto o rapaz do telefone insistia em querer falar comigo de novo. Foi então que soube que era algo sério. Estava sendo vítima da tecnologia que eu tanto defendo. Infelizmente, tornei-me vítima de algo que tinha previsto que aconteceria no país.

Em 2015, quando meus pedidos de fiscalização do setor foram ignorados pelos deputados em Brasília, eu disse: 'Quando os senhores virem coisas ruins acontecendo, não digam que não avisei'.

Agora, fui negociando com os criminosos e expliquei que aquele valor que pediam era algo em torno de R$ 115 milhões. Era algo impossível. Mesmo se eu tivesse condições de comprar, e não tenho, não teria condições por que não existe essa quantidade no mercado. Isso é o volume do país todo em um mês. Eles foram reduzindo o pedido até deixar o valor do resgate por R$ 5 milhões.

Em termos de privacidade, essa tecnologia é muito boa. Jamais algum funcionário de banco vai poder dizer quanto eu tenho, porque na minha conta corrente eu nunca deixo mais de R$ 500. Faço isso para me proteger.

Para fazer a transferência, é similar a mandar um e-mail. Um título ao portador com a chave, a senha. Aí, você pode trocar isso por outras moedas, inclusive por dinheiro, em qualquer parte do mundo, de forma muito rápida.

Infelizmente, essa privacidade financeira, a característica dessa moeda, acaba ajudando quem quer fazer coisas erradas com ela.

Minha mulher foi solta no sábado, no mesmo dia em que minha filha completaria seis anos de idade. Até por isso, fretei um avião para trazer os policiais e minha mulher de São Paulo, para que ela pudesse ter tempo de abraçar minha filha, de dar os parabéns, antes da meia-noite. E deu tempo.

Ela tinha ficado com meus sogros e não sabia o que tinha acontecido com a mãe. Ela pensava que estávamos em negócios em São Paulo.

Tínhamos escolhido Florianópolis pela segurança. Minha mulher fez uma uma pesquisa e decidimos morar aqui na cidade. Agora, iremos mudar daqui, voltar para a África do Sul, onde temos casa.

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Entenda os bitcoins

O que são
Bitcoins são moedas digitais; elas foram criadas em 2009, por um anônimo, com o propósito de tornar o mercado financeiro mais aberto e descentralizado

Quem pode usar
Qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo. Não há requisitos nem limite mínimo ou máximo de valor

O que podem comprar
Diversos tipos de produtos legais, mas também itens ilegais, como armas e drogas, na chamada "deep web" -a internet profunda

Troca
Através de mercados de câmbios, é possível trocar dólares, euros, reais e outras moedas por bitcoins (e vice-versa). Um crédito comprado no Brasil, por exemplo, pode ser sacado em dinheiro em qualquer parte do mundo

Transação
A transferência de bitcoins entre uma pessoa e outra é feita sem intermediários, como bancos. Não há taxas, e os usuários são anônimos

Cotação
Não há nenhuma instituição central responsável pelo controle do câmbio; o monitoramento é feito por computadores na rede. O software é livre e qualquer um pode revisar seu código

Fontes: www.mercadobitcoin.com.br e www.bitcoinbrasil.com.br


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