Folha de S. Paulo


Grupos mascarados colocam fogo em ônibus na Baixada Fluminense

Importantes vias de acesso ao Rio foram palco de incêndio de nove ônibus e dois caminhões nesta terça (2), além de saques que assustaram motoristas nas avenidas Brasil e Washington Luiz, que ligam municípios da região metropolitana ao centro.

O ato foi atribuído pelo governo Luiz Fernando Pezão (PMDB) como uma resposta do tráfico a uma operação da Polícia Militar pela manhã.

Segundo a Secretaria de Segurança, a ação policial frustrou a invasão da favela Cidade Alta, na zona norte, por traficantes do Comando Vermelho, que pretendiam uma retomada de controle -atualmente é dominada pelo Terceiro Comando Puro. Ao todo, 45 suspeitos foram presos e 38 armas de fogo, sendo 32 fuzis, apreendidos.

Não houve registros de feridos nos incêndios, mas a ação da polícia na favela deixou dois mortos, ainda sem identificação, e três policiais feridos sem gravidade. Além dos ônibus incendiados na av. Washington Luiz, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, e na av. Brasil, que passa por 26 bairros do Rio, os conflitos levaram ao fechamento de 28 escolas, dez creches e seis espaços de desenvolvimento infantil.

Ao menos 12.576 alunos da educação básica ficaram sem aula nesta terça (2), segundo a secretaria municipal de Educação. Somente na Cidade Alta, foco principal dos conflitos, oito unidades tiveram que ser fechadas, e 2.203 estudantes ficaram sem aula.

Às 10h50, a cidade entrou em estágio de atenção, pelo centro de operações municipal. Trata-se do segundo nível em uma escala de três e significa que um ou mais incidentes impactam no mínimo uma região, provocando reflexos relevantes na mobilidade.

INVASÃO

O governo do Rio diz que a ordem para a retomada da Cidade Alta pela facção criminosa Comando Vermelho partiu de uma cadeia fora do Estado e foi executada por pessoas recém-egressas do sistema penitenciário. A polícia montou um cerco nos acessos da favela e frustrou a ação.

"Houve uma ação do crime organizado em que eles se falaram, pode ser pessoalmente, por Whatsapp e diversos outros meios, e se deslocaram cada um de uma favela para fazer uma ação como esta", disse Roberto Sá, secretário de segurança da gestão Pezão.

Segundo Sá, a polícia já identificou alguns mandantes da invasão. Os incêndios a ônibus teriam sido orquestrados para desmobilizar a polícia na operação e assim permitir a fuga de traficantes.

Os confrontos entre grupos de traficantes acontecem desde a noite de segunda (1°). A favela Cidade Alta é considerada estratégica pela proximidade com as principais vias de acesso ao Rio.

Sá admitiu que as autoridades sabiam que os traficantes planejavam retomar controle da favela, mas disse que as informações não eram suficientes para uma ação preventiva. Para ele, a polícia evitou um "banho de sangue".

Além dos incêndios a coletivos, foram registrados saques de caminhões nos acessos da av. Brasil. Segundo Sá, a movimentação é incentivada por traficantes para confundir e desviar a atenção. Os 45 presos nesta terça feira serão submetidos a audiência de custódia no Tribunal de Justiça do Rio por videoconferência nesta quarta-feira (3).

Sá elogiou a ação da polícia dizendo que, devido à crise financeira do Estado, ainda não receberam 13º salário, bônus por meta nem pagamento do chamado Regime Adicional de Serviço referente ao período olímpico. Disse também que não há recursos para contratar 4.000 policiais já aprovados em concurso e que a Polícia Civil perdeu 500 agentes.

Reconheceu que, diante da escalada recente da violência do Rio, a ação da polícia não tem sido suficiente. Sá pleiteia legislação mais dura para quem comete crimes violentos e diz que a política de segurança não pode se basear apenas em polícia.

Ônibus e caminhões incendiados no Rio


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