Folha de S. Paulo


'Mini-Doria', novo secretário de SP tem experiência e gosta de 'atropelar'

Assim como o prefeito João Doria (PSDB), o novo secretário de Assistência e Desenvolvimento Social, o empresário Filipe Sabará, 33, gosta de dizer que trabalha "com foco em resultados" e que os problemas de sua pasta, responsável por moradores de rua e pela cracolândia, por exemplo, devem ser resolvidos com "gestão".

O telefonema feito por Doria para comunicá-lo do novo cargo, após o anúncio da demissão de Soninha Francine, não passou de mera formalidade. O adjunto já tinha assumido protagonismo na pasta –à frente de seus principais projetos, cumprindo instruções diretas de Doria e mais presente em reuniões da prefeitura que a secretária.

Diego Padgurschi/Folhapress
Filipe Sabará, 33, em seu gabinete na Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social, no centro de São Paulo
Filipe Sabará, 33, em seu gabinete na Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social

De oito reuniões no último mês, esteve sozinho em seis delas. Soninha reclamava internamente de uma suposta "puxada de tapete". Um funcionário que não quis ser identificado diz que, na prática, "ele estava secretário e ela estava adjunta".

Na mesma linha adotada por Doria, Sabará, recém-filiado ao Partido Novo, posta selfies e vídeos para divulgar os trabalhos à frente da secretaria –nenhum com a presença de Soninha. Frases bíblicas, outras em inglês e o mote "acelera" também aparecem em seu perfil, onde ele já apoiou uma possível candidatura de Doria à Presidência.

Formado em relações internacionais na FAAP, é figura conhecida no terceiro setor paulistano: comanda, há seis anos, a ONG Arcah, voltada a acolher os sem-teto. A instituição foi fundada ao lado de habitués de colunas sociais, como Fabiana Saad, herdeira do Grupo Bandeirantes.

Ele próprio vem de uma família abastada: é herdeiro do Grupo Sabará, gigante da indústria química voltada à fabricação de cosméticos, que gerou receita de R$ 223,6 milhões em 2015. Após atuar nos negócios da família, desde 2015, ele comanda como diretor comercial a empresa Reload Positive Beauty, que vende produtos de beleza a partir de ingredientes orgânicos. O cargo foi colocado de lado para se dedicar à gestão Doria.

Na página da ONG no Facebook, há fotos de apoiadores estrelados, como Gisele Bündchen. Há também registros de jantar beneficente no Buffet Fasano em outubro passado com presença de Doria e do governador Geraldo Alckmin (PSDB). De acordo com balanço no site, a ONG arrecadou com doações e campanhas cerca de R$ 873 mil em 2015.

Sabará conta que desde criança se incomoda com cenas de injustiça e com frequência repete que já abrigou moradores de rua em sua casa.

"Eu me vejo como um agente transformador socioambiental e sinto em mim a dor de quem passa por desigualdade e injustiça social", diz ele, que considera sua "missão de vida" ajudar os mais necessitados. O mesmo tom norteia seu discurso quando fala sobre seus projetos à frente da secretaria municipal.

PROJETOS

Sabará vinha tocando os dois projetos mais chamativos da pasta: a reformulação dos 83 albergues na capital e programa o Trabalho Novo, que distribui emprego a moradores de rua. Como Doria, ele usou seu trânsito com a iniciativa privada para conseguir vagas em empresas. Em dois meses, 230 sem-teto foram empregados –14 deles demitidos. A meta é empregar 20 mil até o fim do ano.

"O prefeito cobrava rapidez de resultados em relação a população de rua", diz Soninha, sobre sua demissão. "Eu também tenho pressa, mas questões complexas não são resolvidas em algumas semanas."

Após a demissão, Doria publicou vídeo em que afirma não estar no "espírito" de Soninha a gestão mais pesada da pasta. Nas redes sociais, a participação da ex-secretária foi considerada "humilhante". Para ela, porém, "era o que precisava ser dito".

Soninha deixa equipe de Doria

Sabará, por outro lado, diz com segurança que vai conseguir cumprir as metas. Amigo próximo resumiu sua fama: "Ele gosta de atropelar e fazer acontecer". Esse estilo de "passar por cima" é repetido por quem trabalha com ele. "É prático e articulador", diz Sebastião Nicomedes, ex-morador de rua que trabalha em projetos da pasta –seu supletivo, diz, foi pago por Sabará.

"Vou juntar amor com gestão. Amor para olhar e escutar quem precisa e gestão para criar oportunidades", afirma o novo secretário.


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