Folha de S. Paulo


Doria busca parcerias com suspeitos em escândalo da 'Lava Jato coreana'

Lee Sang-ho/Xinhua
O vice-presidente da sul-coreana Samsung, Lee Jae-yong
O vice-presidente da sul-coreana Samsung, Lee Jae-yong

O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), chega nesta quarta-feira (12) à Coreia do Sul em sua segunda missão pelo exterior em busca de experiências exitosas, parcerias e investidores para a capital paulista.

Após turnê pelo Oriente Médio, em fevereiro, Doria desta vez estará num país sob incertezas devido ao impeachment e à prisão da presidente da República, Park Geun-hye, num escândalo com repercussões correspondentes a uma "Lava Jato coreana".

Na agenda de compromissos do tucano haverá visitas aos conglomerados que estão no epicentro da crise: Hyundai, LG, SK e principalmente Samsung, suspeitos de fazerem doações a fundações da melhor amiga da ex-presidente sul-coreana em troca de favores.

O caso mais grave envolve a Samsung, cujo herdeiro e principal cabeça do grupo, Lee Jae-yong, foi preso acusado de corrupção –teria dado cerca de US$ 50 milhões em troca da aprovação da fusão de duas divisões do grupo.

Doria visitará a Samsung na sexta-feira (14), onde será recebido por executivos da cúpula da empresa e ouvirá sobre soluções de pagamentos eletrônicos. No dia anterior, fará visitas aos grupos Hyundai, LG e SK.

Apesar das suspeitas, a forte presença desses conglomerados na Coreia pode ser notada pela ampla publicidade nas ruas de Seul, no aeroporto e em estações de metrô.

"A Samsung não pagou subornos nem fez pedidos impróprios à presidente em busca de favores. Faremos nosso melhor para garantir que a verdade seja revelada em futuros processos judiciais", informou a empresa à Folha.

A Hyundai disse que "não comenta este assunto". A LG não se manifestou, e a SK não respondeu à reportagem.

À Folha, Doria disse esse caso envolve "temas internos do país". "Não cabe a mim fazer nenhum comentário sobre temas de política interna da Coreia. O que olhamos são os aspectos pragmáticos de investimentos privados financiados por bancos sul-coreanos que podem ser feitos no Brasil e especialmente na cidade de São Paulo".

CONVITE

A visita de Doria ao país atende a um convite com a maior parte das despesas pagas pela Prefeitura de Seul e inclui encontros para conhecer a tecnologia moderna de controle do transporte público. O compromisso foi acertado antes de Doria ganhar status de presidenciável e marcará a celebração do aniversário de 40 anos da relação entre São Paulo e Seul como "cidades-irmãs".

Embaixador do Brasil na Coreia do Sul, Luís Fernando de Andrade Serra diz que, apesar da incerteza atual pela existência de um governo provisório, há expectativa positiva porque a crise "caminha para uma solução institucional", com novas eleições marcadas para maio.

"É claro que no momento as empresas não tomam decisões. Mas as incertezas ficarão para trás", disse.

A embaixada ajudou a organizar quase toda a agenda de Doria em Seul, mas não a ida à Samsung. "Esta visita está sendo tratada diretamente por São Paulo", conta Serra. Mas vê algum constrangimento pelo fato de a empresa ter seu líder preso e estar no centro do escândalo sul-coreano? "É um grupo enorme, certamente haverá outras autoridades para contatar", completa.

DOAÇÕES

Em São Paulo, a proximidade de Doria com a iniciativa privada tem sido bandeira do prefeito, que solicita doações de empresas à cidade e faz propaganda das marcas em falas públicas e nas redes sociais.

O prefeito diz já ter angariado mais de R$ 270 milhões. Pesquisa Datafolha apontou que 45% dos paulistanos consideram essa ação "nada transparente".

Na Coreia, a fama de Doria mobilizou negociações nas últimas semanas para possíveis doações durante a visita. O embaixador Serra diz: "Doação conquista corações e mentes". "Quem sabe alguém se propõe a instalar wi-fi de graça num parque?", sugere.

Uma das metas de Doria é atrair grupos interessados em seu programa de privatizações e concessões (que tem mais de 50 itens).

Para isso, haverá encontros com executivos do banco de investimentos Mirae Asset e da Korea Investment Corporation, agência gestora do fundo soberano sul-coreano.

Young Jong Hong, cônsul-geral da Coreia do Sul em São Paulo, afirma que a crise política "não irá afetar de maneira alguma" a cooperação entre os dois países.

Ele diz que Samsung, LG e Hyundai têm investido no Brasil principalmente desde 2011, mas que a hora é de expandir "para além da indústria", em áreas como tecnologia de comunicação e informação, logística e finanças.

"As empresas coreanas demandam apoio regulacional e institucional por parte dos governos municipais e estaduais, e essas cooperações as encorajam", diz o cônsul.


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