Folha de S. Paulo


Empresários e educadores defendem secretário de Doria de ataques do MBL

Karime Xavier/Folhapress
SÃO PAULO / SÃO PAULO / BRASIL -16 /02/17 - :00h - o vereador Fernando Holiday (DEM/MBL) em seu gabinete. ( Foto: Karime Xavier / Folhapress). ***EXCLUSIVO***COTIDIANOSÃO PAULO, SP, BRASIL, 19-03-2012: Alexandre Schneider, ex-secretário da Educação do município de São Paulo, durante almoço-debate
Vereador Fernando Holiday (DEM), do MBL, e secretário de Educação de SP, Alexandre Schneider (à dir.)

Empresários, educadores, políticos e membros de organizações não governamentais lançaram um manifesto em apoio ao secretário municipal de Educação, Alexandre Schneider (PSD), após os ataques que ele vem recebendo de simpatizantes do MBL (Movimento Brasil Livre).

A crise teve origem na semana passada, quando Schneider criticou a ida de Fernando Holiday (DEM), vereador e integrante do MBL, a uma escola municipal para "verificar se estava havendo doutrinação ideológica por parte de professores".

O sindicato dos professores criticou a postura de Holiday, e o secretário endossou a crítica, afirmando que não era correto "intimidar professores". O MBL retrucou, Schneider pediu demissão por não se sentir respaldado pelo prefeito João Doria (PSDB), mas, por ora, foi convencido a ficar, como a Folha revelou no sábado (8).

Após os ataques sofridos pelo secretário, o movimento "#ApoioAlexandreSchneider" reuniu nomes como os de Claudia Costin (professora visitante da Universidade de Harvard e colunista da Folha), Neca Setúbal (presidente dos conselhos do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária e da Fundação Tide Setubal), Mozart Ramos (educador do Instituto Ayrton Senna) e do vereador Police Neto (PSD).

"O ataque [do MBL] veio após o secretário Schneider defender a promoção da tolerância e os princípios constitucionais da liberdade de ensinar, de aprender e do pluralismo de ideias", diz trecho do manifesto.

Holiday defende o projeto de lei Escola sem Partido, que restringe as opiniões de professores em sala de aula. A ação do MBL também é criticada por, entre outros pontos, ignorar que, em Alagoas, lei semelhante a esse projeto foi suspensa por determinação do ministro Luís Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal).

De acordo com o manifesto: "Em sua decisão, o ministro afirmou que a lei traz "previsões de inspiração evidentemente cerceadora da liberdade de ensinar assegurada aos professores, que evidenciam o propósito de constranger e de perseguir aqueles que eventualmente sustentem visões que se afastam do padrão dominante", e promove uma "desconfiança com relação ao professor".

Após a polêmica, duas vereadoras da Câmara Municipal de São Paulo tiveram seus números particulares de celular expostos em mensagens que circularam via WhatsApp na última quinta (6). As mensagens tinham o objetivo de estimular os destinatários a pressioná-las a favor do projeto Escola Sem Partido. Uma das imagens usadas tinha a assinatura do MBL. Nenhum líder do movimento foi encontrado para comentar o caso.

DOR DE CABEÇA

A confusão causada pela inspeção feita por Holiday se espalhou pelas redes sociais e causou dor de cabeça a Doria. Emissários do tucano procuraram líderes do MBL para tentar uma acomodação, e o prefeito afirmou que o episódio estava superado.

"Eu entendi que todos ali cometeram pequenos excessos e houve um estresse. Mas já superaram com diálogo, com entendimento", disse Doria à Folha.

Não parece ser bem o caso. "Está tudo em aberto. O secretário foi sórdido com o Fernando, que não é um vereador qualquer. Ele comprou uma mentira do sindicato e ficou dodói. Se não sabe brincar, não desce para o playground", disse Renan dos Santos, coordenador do MBL.

"Ele [Schneider] nunca se retratou. Os diretores das escolas confirmaram que não houve intimidação alguma, e eu vou continuar ouvindo denúncias de pais e fazendo visitas", disse Holiday.

Ausente em reunião do primeiro escalão de Doria neste sábado, o secretário não foi localizado nem respondeu as mensagens. "Queremos uma retratação", diz o vereador.

O episódio evidencia um impasse para Doria. O MBL, grupo fundado em 2014 e que foi instrumental nas manifestações que ajudaram a pressionar pelo impeachment de Dilma (PT), apoia o prefeito e já o lançou à Presidência.

O movimento é um dos maiores "influenciadores digitais" das redes sociais, ou seja, grupo com grande número de compartilhamento de suas postagens. Isso não passa despercebido pelo time de Doria.

Por outro lado, membros de sua equipe consideram que o MBL exagerou no episódio com o secretário e que, a despeito da intenção contemporizadora de Doria, há espaço para que o radicalismo do grupo gere rejeição ao prefeito entre segmentos mais escolarizados da população.

O MBL dá de ombros a essa avaliação. "Para quem enfrentou o PT, tucano é sobremesa, ainda mais tucanos de bico vermelho", diz Santos, que rejeita qualquer filiação ao tucanato. Ele diz que o grupo não considera retirar, por ora, o apoio a Doria.

"Defendemos ideologicamente o prefeito, o que ele representa. Mas ainda temos de discutir esse episódio", afirma. Para Holiday, "o prefeito está tentando resolver o problema", mas "as relações ficam estremecidas".


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