Folha de S. Paulo


Vereadoras de São Paulo têm celular exposto e criticam 'intimidação'

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Imagem divulgada via Whatsapp com telefone da vereadora Isa Penna
Imagem divulgada via Whatsapp com telefone da vereadora Isa Penna

Duas vereadoras da Câmara Municipal de São Paulo tiveram seus números particulares de celular expostos em mensagens que circularam via WhatsApp nesta quinta-feira (6). As mensagens tinham o objetivo de estimular os destinatários a pressioná-las a favor do projeto Escola Sem Partido. Uma das imagens usadas tinha a assinatura do MBL (Movimento Brasil Livre).

Como resultado, segundo relataram, as vereadoras receberam centenas de mensagens intimidatórias de números desconhecidos.

O Escola Sem Partido, que está em análise na Câmara dos Deputados, combate suposta "doutrinação" nas salas de aula e, em tese, defende um ensino "neutro". É promovido por deputados da bancada evangélica, entre outros, e combatido por parlamentares ligados à esquerda.

As vereadoras cujos números de celular foram expostos são Isa Penna e Sâmia Bomfim, ambas do PSOL. Isa disse à Folha que, na noite de quinta e na madrugada desta sexta (7), recebeu quase 1.200 mensagens em seu celular particular.

"O contexto é de intimidação. Uma única pessoa me mandou 954 mensagens de uma só vez na madrugada", afirmou. Segundo Isa, pela manhã, um número desconhecido lhe enviou por WhatsApp as duas imagens que incitaram as pessoas a escrever para ela e para Sâmia.

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Imagem divulgada via Whatsapp com telefone da vereadora Sâmia Bomfim
Imagem divulgada via Whatsapp com telefone da vereadora Sâmia Bomfim

As imagens trazem um texto que diz que as duas são "a favor da doutrinação nas escolas" e pede que o destinatário as "convença do contrário". Em uma imagem com a foto de Sâmia há a assinatura do MBL.

A discussão sobre o projeto Escola Sem Partido voltou à pauta em São Paulo nesta semana, após o vereador Fernando Holiday (DEM) realizar, na segunda-feira (3), visitas de fiscalização em escolas municipais "para verificar a estrutura da escola, mas também para analisar se há doutrinação no conteúdo que está sendo dado na sala de aula", conforme explicou em vídeo o membro do MBL.

Na quarta (5), Isa e Sâmia, que se opõem ao Escola Sem Partido, representaram contra Holiday na Corregedoria da Câmara Municipal por suposta quebra de decoro, sob o argumento de que ele extrapolou suas funções de vereador ao fazer as inspeções nas escolas.

Para Isa, Holiday adotou "postura intimidatória" ao averiguar cadernos de alunos, segundo relatos de professores que se sentiram ofendidos.

Isa disse que estuda adotar medidas contra a exposição de seu número de celular privado.

OUTRO LADO

A reportagem não localizou os principais líderes do MBL nesta sexta para comentar sobre o caso.

Em nota, a assessoria de Fernando Holiday afirmou que o vereador não é o autor da campanha contra as colegas. "Não partiu de nós. Nosso mandato tem coisa mais séria a tratar e Holiday também já sofreu ataques como este", afirmou.

A nota diz que não é a primeira vez que Isa e Sâmia inventam mentiras para tirar proveito da popularidade de Holiday a fim de angariar "likes" nas redes sociais. "A denúncia [das vereadoras] é ridícula", afirmou Holiday.

CRÍTICA DE SECRETÁRIO

O secretário de Educação da gestão João Doria (PSDB), Alexandre Schneider, criticou na terça (4) as ações de inspeção de conteúdo pedagógico realizadas por Holiday em escolas municipais.

"Evidentemente o vereador exacerbou suas funções e não pode usar de seu mandato para intimidar professores", afirmou o secretário. Holiday é da base de Doria na Câmara Municipal.


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