Folha de S. Paulo


Institutos divergem sobre ocorrência de febre amarela na capital do Rio

Enquanto o governo do Rio se esforça para tranquilizar a população dizendo que não há febre amarela na capital, dois institutos, ambos credenciados pelo Ministério da Saúde, chegam a conclusões diferentes sobre o assunto.

Quatro saguis e um macaco prego foram encontrados mortos em florestas nos bairros de Copacabana, Jardim Botânico, Gávea, na zona sul, e Engenheiro Leal e Manguinhos, na zona norte. O primeiro resultado da análise, feita pelo Instituto Evandro Chagas, no Pará, deu positivo para febre amarela.

O Evandro Chagas é o laboratório de referência nacional do Ministério da Saúde para o diagnóstico da febre amarela.

A pedido do governo do Estado do Rio, a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) fez outra análise, divulgada na última segunda (20), que não encontrou o vírus nos macacos. O resultado foi apresentado pelo governo do Estado como sinal de que não há casos da doença na capital.

Diante do impasse, o Ministério da Saúde diz que o teste da Fiocruz não pode ser considerado contraprova pois as análises diferem nas amostras e métodos utilizados. O ministério evita dizer qual dos dois é mais confiável e não informou se será feito um terceiro teste.

"Qualquer um dos resultados, no entanto, não interferem na estratégia adotada pelo secretarias de Estado e do município do Rio de Janeiro, com apoio do Ministério de Saúde. Afinal, não há evidência de circulação do vírus da febre amarela na cidade do Rio de Janeiro", diz, em nota.

O presidente do Instituto Evandro Chagas, Pedro Vasconcelos, disse que não comentaria o assunto, que, segundo ele, já gerou muito desgaste. "O que posso dizer é que mantemos nossa posição. Nossos exames deram positivo. Esse teste foi desenvolvido por nós e é usado no mundo inteiro desde 1992. Somos o laboratório de referência."

O presidente da Sociedade Brasileira de Virologia, Maurício Lacerda Nogueira, diz que é relativamente comum ter discordância em laboratórios porque há metodologias diferentes. "É para isso que serve o laboratório de referência, que é quem responde legalmente pela análise."

"O governo do Rio está tomando uma decisão mais política do que técnica. Em vez de chamar os dois institutos e entender as divergências, escolhe acreditar no que lhe é mais conveniente." Ele acrescenta que, independentemente desses resultados, há risco de a doença chegar à cidade.

"O Rio é um Estado de risco porque tem muita mata e pouca gente vacinada. A cobertura mínima segura é de 80% da população. Os sinais de alerta vieram em janeiro, quando a febre amarela atacou no Espírito Santo."

Também é essa a opinião do pesquisador da Fiocruz Ricardo Lourenço de Oliveira, que lidera análise de mosquitos encontrados em áreas de febre amarela.

Editoria de Arte/Folhapress
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