Quatro pessoas foram presas nesta segunda-feira (20) no Espírito Santo sob suspeita de incentivarem o motim de policiais militares no Estado. A Operação Protocolo Fantasma foi deflagrada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) após a juíza Gisele Souza de Oliveira, da 4ª Vara Criminal de Vitória, autorizar os pedidos de prisão preventiva feitos pelo Ministério Público.
A operação cumpriu ainda 24 mandados de busca e apreensão na Grande Vitória. Outros 19 pedidos de condução coercitiva não foram autorizados pela juíza. A ação teve participação da Corregedoria da Polícia Militar do Espírito Santo e da Força Nacional.
Segundo o Ministério Público, a operação tem o objetivo de recolher provas para identificar supostos líderes do movimento que paralisou o policiamento no Espírito Santo em fevereiro, deixando 198 mortos entre os dias 3 e 24, de acordo com o Sindicato dos Policiais Civis.
Em sua decisão, a juíza aponta indícios de que um novo motim vinha sendo articulado e de que provas poderiam ser destruídas. "Diálogos travados pelos representados e demais investigados indicam () a intenção de desaparecer com qualquer evidência incriminatória, a exemplo dos diálogos em que os mesmos expressamente combinam de conversar pelo aplicativo WhatsApp para evitar deixar registros probatórios", afirma.
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Segundo a magistrada, os quatro presos —Ângela Souza Santos e Cláudia Gonçalves Bispo, mulheres de policiais, Walter Matias Lopes, ex-policial, e o policial Leonardo Fernandes Nascimento— são suspeitos dos crimes de atentado ao serviço de segurança pública e associação criminosa.
A operação mirou principalmente familiares de policiais. Dos 24 endereços onde houve buscas de atas de reunião, celulares e computadores, 18 eram residências de mulheres.
LIDERANÇAS
Casada com o cabo Wellington dos Santos Alvarenga, Ângela é apontada como líder do movimento em "articulação para a realização de novo bloqueio dos batalhões". Em conversas de telefone interceptadas, ela fala em promover novo caos no Estado após a saída das forças nacionais de segurança.
Cláudia também é apontada como uma das principais líderes. Em conversa gravada na quinta (16), Ângela diz a Cláudia que esteve em batalhões e que os policiais estão de acordo em fechar unidades, mas era preciso maior adesão de mulheres no interior.
Ainda de acordo com a investigação, o PM Leonardo Nascimento garantia a segurança de reuniões organizadas por Ângela. A defesa dos três investigados não foi localizada até a publicação desta reportagem.
REDES SOCIAIS
Presidente da Aspobom (Associação dos Beneficiários da Polícia e Bombeiros do Estado do Espírito Santo), Matias incitou o movimento pelas redes sociais, além de ameaçar o secretário de Segurança do Estado, segundo a operação. Ele nega ter liderado o motim.
Matias e sua mulher, Izabella Renata Andrade Costa, já haviam sido mencionados em relatório da Polícia Federal sobre a paralisação da PM. Izabella, então funcionária do deputado federal Carlos Manato (SD-ES), foi exonerada após o episódio.
Manato e o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) também aparecem no relatório. Um aliado de Bolsonaro, o ex-deputado e capitão da reserva Lucinio Castelo de Assumção foi preso no final de fevereiro. Os deputados negam relação com o movimento.