As ocorrências de roubo de cargas no país quase dobraram nos últimos seis anos e provocaram, apenas em 2016, um prejuízo estimado em R$ 1,4 bilhão.
Os dados são de estudo divulgado nesta quinta (16) pela Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro), que pede medidas para conter a atividade criminosa e alerta para riscos de desabastecimento de produtos no Rio.
De acordo com a entidade, foram 22.550 ocorrências apenas em 2016 –o estudo considera dados de 22 Estados e do Distrito Federal, já que não foi possível compilar as estatísticas de Acre, Amapá, Paraná e Roraima.
O número é 86% superior às 12.124 ocorrências registradas em 2011. Do total de casos, 84% foram registradas no Rio e em São Paulo. De acordo com os dados da Firjan, um caminhão é roubado a cada 23 minutos no país.
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No acumulado entre 2011 e 2016 foram registrados 97.786 roubos de carga no país, com prejuízo estimado em R$ 6,1 bilhões.
"Chegamos a níveis intoleráveis, são cifras vergonhosas. No ano passado, batemos todos os recordes possíveis", disse o presidente da Firjan, Eduardo Eugênio Gouveia Vieira.
O crescimento da atividade coloca o Brasil como o oitavo mais perigoso para o transporte de cargas em lista de 57 países elaborada pela Joint Cargo Comitte (entidade que representa seguradoras), acima de regiões com conflitos, como o Paquistão, a Eritreia e o Sudão do Sul.
O crime, que costumava ser mais concentrado em São Paulo, passou a ter um grande nível de ocorrências também no Rio nos últimos anos e, segundo autoridades, está relacionado ao tráfico de drogas: o roubo de cargas seria uma maneira de financiar a compra de armas por traficantes.
Em 2011, o número de casos no Rio (3.073) era inferior à metade dos registrados em São Paulo (6.958). Em 2016, foi praticamente igual: 9.862 no Rio contra 9.943 em São Paulo.
Considerando o tamanho da população, o Rio supera São Paulo de longe: em 2016, foram 59,3 ocorrências para cada mil habitantes, contra 22,2 por cada mil habitantes no estado vizinho.
Moacyr Lopes Junior - 25.mai.15/Folhapress | ||
Sala de monitoramento de empresa de transporte que controla entrega de cargas por todo o país |
IMPACTOS
Com maior risco, as seguradoras têm cobrado taxas adicionais para apólices de cargas que chegam à região metropolitana do Rio, que correspondem a até 1% do valor da mercadoria e têm impacto nos custos finais dos produtos.
Por isso, disse a entidade, há produtores preferindo deslocar suas cargas para outros mercados, principalmente nos ramos alimentício e de bebidas.
"O risco de desabastecimento é real. Tem algumas seguradoras que não fazem mais seguros para o Rio e as poucas que fazem, estão cobrando mais caro. Em alguns produtos, como alimentícios e de bebidas, vamos ter sérios problemas de desabastecimentos", alertou o vice-presidente da Firjan, Sergio Duarte.
A entidade propôs nove medidas para combater o crime, como maiores penalidades para receptadores e revendedores de carga, fortalecimento das polícias e a proibição da venda de bloqueadores de sinais de rádio, usados pelos bandidos para driblar os rastreadores de veículos.
Presente ao evento de lançamento do estudo, o superintendente da PRF (Polícia Rodoviária Federal) no Rio, José Roberto Gonçalves de Lima Neto, disse que o efetivo da instituição está limitado e não tem condições de montar operações específicas para combater este tipo de crime.
"Temos tido grandes avanços no trabalho reativo e naquilo em que a gente é especializado, como tráfico de drogas e armas. Mas o efetivo está no teto de nosso efetivo e não conseguimos, neste momento, montar operações especiais", afirmou.
Ele ressaltou que a PRF tinha, em 1990, um efetivo 40% maior do que tem hoje. "Ao mesmo tempo, houve avanço na criminalidade, na frota e na circulação das rodovias", comentou.