Folha de S. Paulo


Na crise, Carnaval de Salvador se livra das cordas, mas não traz surpresas

Pense rápido e cite duas marcas da Bahia conhecidas pelo mundo. A resposta vem na ponta da língua: Odebrecht e Olodum.

A primeira é a empreiteira que por décadas foi símbolo de eficiência, mas afundou-se com o esquema de corrupção que dilapidou os cofres da Petrobras.

A segunda é o bloco afro mais famoso do país, que já gravou com Michael Jackson e Paul Simon. E que, ironia, foi para rua a fórceps após cortes de patrocínio da Petrobras.

A atual situação de blocos como Olodum, Ilê Aiyê, Malê Debalê e Muzenza, todos endividados e com desfiles reduzidos, revela que ainda há algo de errado no reino do Carnaval da Bahia.

As cordas dos blocos estão caindo? Maravilha. Mas qual o modelo que vamos colocar no lugar? Este ano, governo e prefeitura juntos gastaram mais de R$ 9 milhões com cachês no Carnaval.

Parte do dinheiro veio da iniciativa privada e ajudou a custear artistas mais caros como Ivete Sangalo, Claudia Leitte, Bell Marques e Anitta.

Mas a origem do dinheiro não é o ponto e sim o que é prioridade. As "odebrechts" da música baiana seguem como pontas de lança do esforço estatal. Elas não precisam de governos: se quiserem fazer desfiles patrocinados, de graça para os foliões, vão conseguir.

Enquanto isso, blocos tradicionais penam numa surreal situação em que marcas positivas como Olodum e Ilê, ligadas a trabalhos sociais e à valorização da cultura, não conseguem um mísero vintém de empresas privadas.

E os bloquinhos, estes sim o grande respiro do Carnaval de rua democrático em Salvador, são confinados na quarta-feira, uma semana antes da de Cinzas, quando os holofotes estão apagados e os camarotes sendo montados.

Sim, as cordas caíram. E daí? Na Bahia, terra de artista e arteiro, ainda falta o principal ingrediente que faz um grande Carnaval. Falta surpresa.

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