Folha de S. Paulo


Com explosão do Carnaval em SP, blocos paulistanos se profissionalizam

Na esteira da explosão do Carnaval de rua em São Paulo, blocos que antes eram celebrações entre amigos cresceram e se profissionalizaram. Com patrocínio e festas ao longo do ano, alguns vislumbram até a rentabilidade. Outros já nasceram nas mãos de produtoras, com menos cara de bloco e mais cara de festa, sem banda, só com DJ.

Serão 391 blocos nesse Carnaval que começou na cidade na sexta (17), número quase 30% maior do que a quantidade de grupos em 2016 e só 13% menor que o número de blocos no Rio. Dois dos três maiores blocos que saem em São Paulo, Bangalafumenga e Sargento Pimenta (55 mil pessoas no ano passado), do Rio, e Monobloco (45 mil), são organizados por produtoras.

Do total de blocos em SP, 64 têm patrocínio da Skol, marca de cerveja da Ambev, que também deu dinheiro à prefeitura. Outra marca de cerveja, a Amstel, da Heineken, patrocina oito blocos.

Paralelamente a quatro deles, a empresa abrirá "casas de hospitalidade" para receber foliões, com DJs, estações para carregar o celular e apresentações dos blocos.

O resultado é um Carnaval com marcas expostas para todos os lados: publicações patrocinadas no Facebook, uma roda-gigante da Skol no largo da Batata, sem contar os logotipos no trio elétrico. "Até o ano passado, a gente procurava as marcas. Neste, elas nos procuraram", diz a empresária Fernanda Toth, 36, do bloco Casa Comigo, patrocinado por quatro empresas.

O potencial de turismo na cidade também ajuda a atrair patrocínio. Na capital, quase 40% dos 43 mil apartamentos estão ocupados, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de São Paulo. E, de acordo com o site de aluguel de temporada Airbnb, a procura subiu 187% em comparação com a festa de 2016.

A organizadora do Casa Comigo diz que "o bloco acaba virando uma empresa", ressaltando que até hoje os organizadores nunca obtiveram lucro. Com uma oficina de bateria e quatro festas no ano, o grupo que começou em 2012 só entre amigos na Vila Beatriz (zona oeste) espera 20 mil pessoas no Carnaval de 2017.

FOLIA EM EXPANSÃO - Carnaval cresce nas ruas de São Paulo

FOLIA EM EXPANSÃO - Orçamento, em R$ milhões*

Primeiro bloco sertanejo de São Paulo, o Pinga Ni Mim surgiu porque a produtora Nathalia Takenobu, 31, viu "uma oportunidade". E acho que acertei", diz, sobre o bloco de R$ 20 mil pagos com apoio de marcas de cerveja, de vodka e de uma loja de roupas.

O Agrada Gregos, bloco LGBT também organizado por Takenobu, é patrocinado pelas mesmas marcas. "Investimos no bloco, fizemos várias festas ao longo do ano", diz. "Não dá pra viver dele, mas dá pra tirar uma renda."

Dois blocos gigantes, o Monobloco e o Bicho Maluco Beleza, com Alceu Valença, são organizados por uma produtora, a Pipoca. O produtor Rogério Oliveira, 41, diz, no entanto, que não são "altamente lucrativos". Não revela o valor de patrocínio, nem lucro.

Uma reunião na subprefeitura de Pinheiros tinha entre os presentes "produtoras, não pessoas físicas como eu", observa Cristina Naumovs, 39, do bloco do Apego. "É caro, não tem jeito, alguém precisa pagar a conta. Só acho estranho que vire geração de conteúdo para marcas", diz.

Para o historiador carioca Luiz Antonio Simas, autor de pesquisas sobre samba e Carnaval, essa celebração é mensurada hoje pela lógica de retorno de mercado. "O problema é que, se por um lado se injeta dinheiro no Carnaval de rua, por outro, perde-se a espontaneidade", diz. "Um Carnaval cujo fundamento era a imprevisibilidade é domesticado, mercantilizado."

FOLIA EM EXPANSÃO - Blocos por subprefeitura

Blocos em outras cidades

NO HAY BANDA

Para Eduardo Piaggi, da Confraria do Pasmado, outro bloco que se agigantou e hoje espera 20 mil foliões, o ideal é que todos os blocos investissem o dinheiro do patrocínio nos músicos e em música ao vivo. "Música mecânica tem seu espaço o ano inteiro."

A ideia do Agrada Gregos é ser "uma balada a céu aberto", segundo sua organizadora, ou seja, sem banda. Com o sucesso do Pinga Ni Mim, que inicialmente sairia só com DJ, os organizadores devem incluir uma atração ao vivo.

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