Folha de S. Paulo


PF prende até cabeleireiro que recebia bolsa fraudulenta na UFPR

Divulgação/Polícia Federal
PF deflagra operação para combater desvio de recursos públicos da Universidade Federal do Paraná
PF deflagra operação para combater desvio de recursos públicos da Universidade Federal do Paraná

Ao menos 28 pessoas foram presas pela Polícia Federal nesta quarta-feira (15) durante uma operação que investiga fraudes milionárias no repasse de bolsas de estudo a pessoas sem vínculos com a UFPR (Universidade Federal do Paraná) entre 2013 e 2016.

Segundo a investigação, os suspeitos teriam desviado cerca de R$ 7,4 milhões em bolsas de pesquisas para 27 pessoas "sem qualquer vínculo acadêmico com a universidade", entre 2013 e 2016.

Entre os beneficiados pela fraude, estavam ajudantes de cozinha, taxistas, aposentados, donos de salões de beleza, um pedreiro, uma vendedora de roupinhas de boneca Barbie e até beneficiários do Bolsa Família. A PF investiga se eles agiram como laranjas.

Divulgação/Polícia Federal
Polícia cumpre mandados na reitoria da UFPR, em Curitiba
Polícia cumpre mandados na reitoria da UFPR, em Curitiba

Também foram detidas duas servidoras da UFPR: Conceição Abadia de Abreu Mendonça e Tânia Marcia Catapan, que trabalhavam na Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação. Mendonça era chefe do controle e execução orçamentária, e Catapan, secretária administrativa do gabinete.

Elas foram apontadas como responsáveis pelas ordens de pagamentos das bolsas fraudulentas.

O delegado Felipe Hayashi, que coordenou a operação, disse estar "estarrecido e chocado com essa fraude grosseira".

"Eu fico pensando na comunidade acadêmica. Quantos pesquisadores sérios deixaram de receber recursos, enquanto esse dinheiro todo estava sendo desviado?", afirmou João Manoel da Silva Dionísio, secretário de controle externo do TCU (Tribunal de Contas da União).

PF deflagra operação que investiga fraudes na UFPR

A fraude, segundo a PF, foi detectada pelo TCU (Tribunal de Contas da União) e comunicada à UFPR. A operação foi realizada em parceria também com a CGU (Controladoria-Geral da União).

Alguns dos investigados chegavam a receber até R$ 24 mil por mês em bolsas de pesquisa.

"Quantas pessoas sérias ganham esse valor? É muito difícil de acontecer", disse Dionísio. "Nem os professores mais titulados da instituição receberam tanto em bolsa. É estarrecedor", afirmou Hayashi.

O ex-reitor da UFPR, Zaki Akel, também foi intimado a depor, na tarde desta quarta (15). A PF ainda investiga se havia conivência da reitoria da universidade com as práticas criminosas.

ESQUEMA

As bolsas dos 27 investigados foram pagas a título de auxílio à pesquisa, para estudos no país e no exterior, num total de R$ 7,34 milhões.

Boa parte dos beneficiários, porém, não tinha sequer ensino superior, e nenhum possuía currículo na Plataforma Lattes –obrigatório para a concessão de bolsas acadêmicas.

O processo de autorização de pagamento era "simplório", segundo a PF, com pouco mais de duas páginas, sem qualquer referência ao objeto de estudo ou a grupos de pesquisa e professores da UFPR.

Quem autorizava os pagamentos era Conceição Mendonça, chefe da seção de orçamento. Durante a investigação, ela e Tânia Catapan foram apontadas por outros servidores como responsáveis pelas fraudes.

Instadas a apresentar a justificativa dos pagamentos, elas informaram, em ofício à UFPR, que os documentos foram "descartados devido a alagamentos" na pró-reitoria.

O juiz federal Marcos Josegrei da Silva suspendeu o exercício da função pública das duas servidoras e determinou o bloqueio das contas dos investigados.

Os 29 suspeitos foram presos temporariamente, por cinco dias. Um mandado de prisão ainda está em aberto. O grupo é suspeito de peculato (desvio de recurso público) e associação criminosa.

A operação, batizada de Research (pesquisa, em inglês), também cumpriu 36 mandados de busca e apreensão, em três Estados: Paraná, Mato Grosso do Sul e Rio de Janeiro.

Recentemente, a PF no Rio Grande do Sul também deflagrou uma operação com o mesmo objetivo: quatro professores da UFRGS foram presos, suspeitos de desviar recursos de um mestrado em saúde coletiva.

OUTRO LADO

Em nota, a UFPR informou que, assim que tomou conhecimento da suspeita de desvios de verba pública, em dezembro de 2016, determinou a abertura de sindicância para apurar responsabilidades.

A instituição diz ainda que solicitará a restituição dos valores e que já suspendeu a atividade funcional das duas servidoras presas nesta quarta-feira (15).

A Folha não conseguiu contato com os advogados das servidoras, que ainda não haviam constituído defesa nos autos até a noite desta quarta.

Um dos bolsistas, advogado, informou em petição à Justiça que recebeu por serviços advocatícios para Conceição Mendonça, e que "jamais desconfiara que tais valores poderiam ter origem em desvio de verbas da UFPR".

Outra, uma vendedora de joias, também disse que recebia por produtos vendidos a Mendonça, "sem a menor consciência ou conhecimento acerca da origem ilícita dos pagamentos".


Endereço da página:

Links no texto: