Folha de S. Paulo


Parentes de PMs do ES abrem mão de reajuste; governo dá início a punições

Familiares dos policiais militares do Espírito Santo e as associações que representam a categoria decidiram, na tarde desta segunda (13), desistir do pedido de aumento de 43% e ofereceram encerrar o motim, iniciado no último dia 3, em troca da anistia dos militares e de garantias do governo de que o reajuste continuaria sendo negociado.

A nova proposta, de acordo com o cabo Thiago Bicalho, diretor social ACS (Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar e Bombeiro Militar), foi encaminhada ao governo no fim da tarde desta segunda. "Está nas mãos do governo acabar com a greve", afirmou Bicalho.

O governo, no entanto, divulgou uma nota dizendo que a proposta atual ainda provocaria "impacto financeiro no orçamento do Estado, infringindo a lei de Responsabilidade Fiscal". Ele também cita dois acordos, que não resultaram na volta do policiamento, e afirma que a "anistia" proposta pelo documento é vedada pela Constituição.

Onda de violência no ES
PM está em motim desde o dia 3 de fevereiro

"Sendo assim, e considerando a necessidade de avaliação ampla do que foi solicitado, este Comitê Permanente de Negociação com a Polícia Militar, mais uma vez, roga aos policiais e bombeiros militares que ainda não retornaram ao trabalho que abandonem o movimento paredista", afirma a nota.

Inicialmente, os familiares dos policiais e os militares que participam do movimento pediam reajuste salarial de 43% o que, segundo eles, equivale as perdas sofridas pelos últimos anos em que a categoria não obteve nenhum reajuste. O governo, no entanto, se recusou a negociar o aumento.

No texto apresentado nesta segunda pelos familiares de PMs, dirigido ao governador Paulo Hartung (PMDB), o movimento dizia reconhecer "as condições econômicas limitadas do governo estadual" e a crise nacional e prometia desobstruir todas as entradas dos batalhões já às 0h desta terça (14) caso as condições fossem atendidas.

Entre os pedidos do movimento estavam "a garantia de não-abertura de procedimentos administrativos disciplinares militares para os supostos policiais que possam ter praticado atos associados a manifestação envolvendo o movimento" e "a garantia de não-abertura de eventuais Inquéritos Policiais Militares ou desistência, caso alguma portaria já tivesse sido instaurada".

Na noite desta segunda, o governo confirmou que publicará no "Diário Oficial" desta terça os primeiros Inquéritos Policiais Militares e procedimentos demissionários dos envolvidos no aquartelamento.

Segundo a Secretaria de Segurança Pública, os inquéritos referem-se a dois tenentes-coronéis, um major e um capitão da reserva remunerada. Esses são os primeiros IPMs instaurados de 703 policiais militares investigados. Também será publicado o início de processos administrativos de outros 161 policiais.

ONDA DE VIOLÊNCIA

Desde o início da paralisação dos policiais, no dia 4, quando familiares de PMs passaram a bloquear a entrada e a saída dos batalhões, mais de 140 homicídios foram registrados no Estado, segundo números Sindicato dos Policiais Civis –o governo não confirma o número. Apenas na última segunda, foram 40 mortes.

Segundo a Secretaria de Segurança Pública, 1.734 PMs atenderam ao chamado operacional e foram trabalhar na manhã desta segunda, 317 a mais do que foi registrado no mesmo período no domingo –o efetivo da Polícia Militar do Espírito Santo é de 10 mil policiais.

A segurança no Estado tem sido feita também por cerca de 3.000 militares e agentes da Força Nacional de Segurança, que estão em território capixaba desde o início da semana passada, quando o motim de policiais agravou a falta de segurança no Espírito Santo.

Nesta segunda, os capixabas tentavam voltar à rotina. Além dos ônibus, as escolas e repartições públicas também retomaram as atividades. Apesar disso, ocorreram alguns tumultos, como o incêndio em dois ônibus: um da viação Sanremo, que faz linha entre bairros de Vila Velha, e outro no bairro de Campo Belo, em Cariacica.


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