Folha de S. Paulo


'Foi uma covardia', diz mãe de jovem morto pelo Exército no Espírito Santo

O sonho do adolescente capixaba M.M.S., 17, era ter uma televisão no quarto. O eletrodoméstico chegou e foi instalado neste domingo (12), mas o menino não estava presente.

Ele foi atingido na cabeça na madrugada da última sexta (10), em Cariacica (Grande Vitória), por um tiro de fuzil disparado por um militar do Exército. O adolescente é um dos mais de 140 mortos no Estado após motim da Polícia Militar que dura nove dias.

O governo diz que o adolescente morreu em confronto enquanto ajudava jovens a fugirem de uma unidade de internação (leia abaixo). A mãe do menino, Cristiane Martins, no entanto, diz que ele foi morto na porta da casa de um tio, aonde fora jantar.

"O que fizeram com ele foi uma covardia. Meu filho era inocente. Os homens do exército não abordaram. Já chegaram atirando, sem perguntar nada. Ele estava com documento e não tinha passagem. Recebi uma ligação do tio dele, 1h da manhã, me avisando que tinham matado ele. Temos as imagens das câmeras da região e vamos entregar assim que a polícia voltar", afirmou.

As Forças Armadas patrulham ruas de cidades capixabas desde o começo do motim. Neste domingo, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, disse que a situação no Espírito Santo voltou ao normal.

O menino estava na sexta série do colégio e lavava carros na frente de casa para ajudar o pai, que tem esclerose múltipla, segundo Martins.

De acordo com a mãe, ninguém do governo ou do Exército procurou a família. Um veículo blindado da instituição continua no bairro, segundo ela.

Cristiane aproveitou para criticar o movimento feito pelas mulheres de policiais que impedem os agentes de saírem dos quartéis. "Elas não estão nem aí para a população. Essas mulheres estão fazendo festa, bebendo e dançando na frente dos batalhões. Enquanto elas vivem um carnaval antecipado, eu choro a perda do meu filho", desabafou.

OUTRO LADO

Segundo uma nota da Força-Tarefa Conjunta Capixaba, no dia 10, por volta de 1h, militares foram enviados para patrulhar as imediações da UNIS (Unidade de Internação Socioeducativa), em Cariacica, após uma solicitação do supervisor de segurança da unidade.

Três homens tentarem, do lado de fora, abrir uma brecha no muro, para permitir a fuga de internos, segundo o governo.

Os criminosos teriam realizado disparos em direção à UNIS, segundo a nota, dando início a um confronto quando a patrulha chegou ao local. O governo diz que os agentes reagiram "em defesa própria" e que um dos criminosos morreu após ser atingido.

Foi instaurado um inquérito militar para apurar a ocorrência, com prazo de 40 dias de investigação, prorrogáveis por mais 20, segundo o governo.

A Força-Tarefa conta com militares do Exército, Marinha e Força Aérea, além de homens da Força Nacional.


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