Folha de S. Paulo


Para burlar bloqueio, PM convoca policiais a se apresentarem a pé no ES

A Polícia Militar do Espírito Santo convocou policiais a se apresentarem em locais públicos da cidade de Vitória para fazer patrulhas a pé durante a tarde deste sábado (11).

Cerca de 600 agentes atenderam ao chamado, nas cidades de Vitória, Vila Velha, Cariacica, Serra e Cachoeiro, segundo a Secretaria de Segurança Pública. O efetivo da PM no Estado é de 10 mil policiais, sendo que 2.000 saem às ruas por dia.

A ideia é burlar o bloqueio de mulheres, que continuavam acampadas nos portões das unidades de polícia, apesar de acordo firmado na noite de sexta (10). Em vez de se apresentarem nos batalhões, de onde seriam impedidos de sair, os policiais se apresentam em lugares como praças, prefeitura e rodoviária.

Cerca de 70 policiais do quartel do Comando-Geral que não conseguiam deixar a unidade devido ao bloqueio foram retirados de helicóptero.

A greve de policiais, contudo, permanece e o policiamento não está completamente restabelecido. O movimento é composto majoritariamente por praças, que formam a maior parte do efetivo da PM.

Entre os que se apresentaram neste sábado, a maioria é oficial, ou seja, policiais de altas patentes.

Na segunda-feira (6), o comando da PM já havia feito um chamado para apresentação a pé. O método, no entanto, gera críticas de que, com poucos colegas na rua e sem carros, os policiais estariam expostos.

Porém neste sábado, a pressão para a retomada do policiamento é maior, já que 703 policiais já foram indiciados pelo crime de revolta, que prevê de 8 a 20 nos de prisão.

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, esteve em Vitória neste sábado. Em nota, a PGR (Procuradoria-Geral da República) informou que estuda a possibilidade de postular a federalização de crimes como o de motim.

Também neste sábado, o secretário de Governo Antônio Imbassahy anunciou que a base do governo no Congresso não deverá apoiar a anistia para policias do Estado que estão em greve.

O ministro da Defesa Raul Jungmann fez um apelo na manhã deste sábado, no 38º Batalhão de Infantaria, em Vila Velha (ES), para que os policiais militares voltem ao trabalho e "honrem suas fardas e seus juramentos".

APRESENTAÇÃO

Na praça Oito, no centro de Vitória, cerca de 50 policiais sem farda se apresentaram até as 17h30 e aguardavam no local, já que não poderiam sair para o policiamento sem o uniforme.

Uma minoria uniformizada se apresentou e saiu para patrulhar. A Folha avistou cerca de cinco viaturas na região central de Vitória.

Aproximadamente 60 policiais se apresentaram na rodoviária de Vitória. Segundo o coronel Bassetti, diretor de tecnologia da informação do Quartel do Comando Geral, 70% são oficiais e 30% praças.

Neste sábado, a chamada foi marcada para as 16h. No domingo (12), será as 8h. A convocação para o policiamento a pé foi assinada pelo comandante-geral da PM no Espírito Santo, Nylton Rodrigues.

Os locais para apresentação dos policiais variam de acordo com a unidade onde trabalham.

Em Vitória, os pontos de chamada são a praça Oito, a rodoviária, a prefeitura e a praça do Papa. Em Vila Velha, o local é a Prainha. Em Guarapari, a apresentação deve ser feita na praia do Morro. Em Serra, no terminal de Laranjeiras. Já em Viana, na Praça de Viana.

ACORDO

Vinte mortes foram registradas no Espírito Santo entre sexta (10) e a manhã de sábado, segundo informação do Sindicato dos Policiais Civis do Estado. Assim, chegou a 137 o número total de mortos no Estado desde o início do motim da PM.

O aumento das mortes ocorre apesar de acordo firmado entre associações de policiais militares e o governo do Espírito Santo para o fim do movimento, que mantém PMs e bombeiros militares fora das ruas.

Em acordo, o governo estadual não atendeu ao pedido de reajuste salarial, mas ficou de apresentar uma proposta no final de abril deste ano.

Os policiais que não retomaram as atividades estão sujeitos a indiciamento pelo crime militar de revolta, que leva a expulsão do militar e prevê pena de 8 a 20 anos de prisão.

Também poderão ser alvos de processos administrativos internos, que igualmente podem levar à expulsão e são mais céleres que os processos criminais.


Endereço da página:

Links no texto: