Folha de S. Paulo


Ministro faz apelo para que 'bons policiais' voltem ao trabalho no ES

Fred Loureiro/Secom-ES
Reunião ministros no 38° BI
Ministro da Defesa Raul Jungmann e governador César Colnago em reunião no 38º Batalhão de Infantaria

O ministro da Defesa Raul Jungmann fez um apelo na manhã deste sábado (11), no 38º Batalhão de Infantaria, em Vila Velha (ES), para que os policiais militares voltem ao trabalho e "honrem suas fardas e seus juramentos". Apesar do pedido, ele também afirmou que o objetivo de normalizar a situação da segurança pública no Espírito Santo já está sendo cumprido.

"Não cabe às forças policiais deixar os cidadãos desprotegidos. Aqueles que são bons policiais devem honrar o seu juramento, que é o de proteger a sociedade. Aqueles que assim não o entendem, de forma consciente ou não, estão contribuindo para o aumento da criminalidade", disse Jungmann. "Fazemos um apelo aos bons policiais, sejam praças, oficiais ou comandantes, para que honrem a sua farda e o seu juramento e vão para a rua proteger o povo".

Vinte mortes foram registradas no Espírito Santo entre sexta (10) e a manhã de sábado, segundo informação do Sindicato dos Policiais Civis do Estado. Assim, chega a 137 o número total de mortos no Estado desde o início do motim da PM, que já dura uma semana.

Nove mortos foram confirmados apenas na manhã de sexta, apesar de acordo entre associações de policiais militares e o governo do Espírito Santo para o fim do movimento, que mantém PMs e bombeiros militares fora das ruas.

Jungmann ressaltou a diminuição nos números de homicídios nos últimos dias e o fim dos saques ao comércio. Ele também reprovou a manifestação e disse que dará suporte a qualquer decisão do Estado.

"Quando vim na segunda-feira, Vitória parecia uma cidade fantasma. Hoje vi lojas abertas, ônibus circulando e as pessoas tentando voltar ao seu dia a dia. Temos hoje aqui um efetivo de 3.130 homens, número inclusive superior ao visto em dias normais. Não há mais saques e arrombamentos e tivemos uma redução significativa nos homicídios. Garantimos a segurança aos hospitais e unidades de saúde também nos corredores de transporte. Resta agora uma questão de desrespeito da PM. Vamos dar apoio a qualquer decisão do governo do Estado. Não se deve aceitar nenhuma reivindicação que coloque em risco a vida das pessoas", afirmou.

Jungmann pediu ainda às mulheres de policiais que protestam a favor da paralisação para que "não levem seus maridos, companheiros e familiares para um caminho sem volta". Ele disse que policiais que quiserem trabalhar poderão usar os quartéis do exército para abastecer e até dormir.

O governador em exercício César Colnago também afirmou neste sábado que o efetivo enviado pelo governo federal está restabelecendo a normalidade na segurança pública do Estado. Ele destacou que fará de tudo para que a lei e a constituição federal seja cumprida.

"Não podemos deixar a população desprotegida por esse ato de violência e insanidade contra o capixaba. Vamos resolver esta grave crise que se estabeleceu em nosso estado. Temos um comandante novo da Polícia Militar, juntamente com o secretário de Segurança Pública e vamos fazer de tudo para que a ordem seja restabelecida", afirmou Colnago.

O governador afirmou ter reaberto as negociações, mas não informou se irá negociar com as mulheres que bloqueiam as entradas dos quartéis e batalhões ou se voltará a conversar com as associações dos policiais.

"Vamos manter ações na Justiça e outras medidas. O que foi mostrado é que a intransigência e a falta de diálogo não foi nossa, e a população é a maior vítima disso. Não concebemos que uma luta por melhoria de salário faça com que a sociedade seja vitimada com mortes, roubos e saques. Apelo ao bom senso dos militares que querem voltar ao trabalho", disse

Em nota, a PGR (Procuradoria-Geral da República) informou que estuda a possibilidade de postular a federalização de crimes como o de motim. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, esteve neste sábado em Vitória (ES), em reunião com membros do Ministério Público Federal, Ministério Público Estadual e representantes dos governos federal e estadual para discutir soluções para a paralisação.

Também neste sábado, o secretário de Governo Antônio Imbassahy anunciou que a base do governo no Congresso não deverá apoiar a anistia para policias do Estado que estão em greve.

O ministro interino da Justiça, José Levi do Amaral, afirmou que a Polícia Federal investigará eventuais crimes cometidos por militares.

MOTIM

Mulheres de policiais continuavam acampadas em frente a batalhões em Vitória depois das 7h deste sábado (11), prazo para os PMs voltarem às atividades sem punição.

Em acordo, o governo estadual não atendeu ao pedido de reajuste salarial, mas ficou de apresentar uma proposta no fim de abril deste ano.

Policiais militares à paisana e mulheres em torno do Quartel do Comando-Geral da PM, do Batalhão de Missões Especiais e do 1º Batalhão afirmavam que nenhuma viatura saiu durante a madrugada. No pátio do 1º Batalhão, as viaturas estavam estacionadas após o prazo dado pelo governo.

Os policiais que não retomaram as atividades estão sujeitos a indiciamento pelo crime militar de revolta, que leva a expulsão do militar e prevê pena de 8 a 20 anos de prisão.

Também poderão ser alvos de processos administrativos internos, que igualmente podem levar à expulsão e são mais céleres que os processos criminais.

Um total de 703 policiais já foram indiciados por revolta até sexta (10).


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