Folha de S. Paulo


Três PMs e um guarda suspeitos por maior chacina de SP irão a júri popular

Mesmo com provas consideradas frágeis pelo próprio Ministério Público, a Justiça de São Paulo decidiu mandar a júri popular os quatro suspeitos de participação na chacina de Osasco que deixou 17 mortos em agosto de 2015.

São três policiais militares e um guarda civil, presos há mais de um ano, denunciados sob a suspeita de terem participado da maior chacina de São Paulo em represália a morte de um PM e de um guarda dias antes. Eles foram acusados ao final de uma investigação marcada por divergências entre as polícia Civil e Militar.

Os advogados dos réus disseram considerar a decisão da juíza equivocada e analisam se vão recorrer. A tendência é que nem recorram para acelerar o trâmite do julgamento por acreditarem que todos serão absolvidos.

A decisão contra os suspeitos foi publicada na última sexta-feira (3) pela juíza Elia Kinosita Bulman, para quem as provas existentes são suficientes mandar todos eles para um julgamento popular.

A magistrada não poupou nem mesmo o policial militar Victor Cristilder que, no final do ano passado, foi inocentado pela própria Justiça paulista em crime correlato.

No processo em que foi absolvido, que tramitava em Carapicuíba, o PM era acusado de comandar bicos de segurança privada que abasteciam uma milícia responsável crimes na região, entre eles homicídios de desafetos.

Essa organização criminosa foi denunciada por uma testemunha que acusava Cristilder de assassinar um homem em 8 de agosto, na pré-chacina, em Carapicuíba.

Ocorre, porém, que ficou provado no processo que o PM nunca comandou os bicos citados pela tal testemunha. Outras afirmações feitas por essa testemunha também não foram confirmadas.

Em sua sentença, a juíza Danielle Câmara Grandinetti, que absolveu Cristilder, disse que a denúncia se baseava "exclusivamente na palavra de uma testemunha protegida" com depoimento "contraditório, lacunoso e por vezes inverossímil".

Está justamente nesse ponto uma das fragilidades da acusação que é usada para levar os quatro suspeitos a júri. Também é com base nessa mesma testemunha que o Ministério Público sustenta que os quatro se conheciam. Todos seriam ligados à milícia comanda por Cristilder por meio de seus bicos ilegais.

Acusados da chacina na Grande SP

Tirando as afirmações feitas por tal testemunha, o maior indício restante contra o PM é a troca de "emoji", na noite da maior chacina, com o guarda municipal de Barueri, Sérgio Manhanhã. Mas nenhum dos dois foi visto, porém, nas cenas dos crimes por testemunhas nem existe outro indício que os coloquem nas cenas do crimes.

Policiais e guardas ouvidos em juízo atestaram que ambos estavam nos quarteis onde trabalhavam. Também é com base na versão de uma única testemunha protegida que está preso o policial Fabrício Eleutério.

A testemunha diz ter reconhecido o policial na noite do crime, quando o PM atirava contra ele, mas sua versão possui inconsistências. O homem não conseguiu, por exemplo, reconhecer o policial sem óculos durante uma audiência na Justiça.

Na noite do crime, admitiu que estava sem o aparelho. Duas pessoas (a namorada e a sogra) confirmaram o álibi do policial. O rastreamento do celular dele, e também do carro que utilizava, reforçam que ele estava na casa da namorada em Osasco.

Por fim, a Promotoria também não conseguiu levar diante da juíza –também o fará com os jurados– a principal testemunha contra o policial Thiago Henklain.

Batizada de Gama, essa pessoa diz ter ouvido que houve uma briga desse PM com a mulher na noite do crime. Na discussão, a mulher teria dito que reconheceu as roupas do PM em reportagens de televisão sobre a chacina.

A mulher de Thiago Henklain não confirmou essa briga. No ano passado, o promotor responsável pelo caso Marcelo Alexandre de Oliveira disse que esperava a juíza mandá-lo para júri, mas não conseguir condená-los. "Vai ser bem difícil a condenação. Porque, de fato, não tem uma prova contundente, irrefutável", disse. "No tribunal, com câmera [mostrando um PM matando], eu já vi policial ser absolvido. Imagina neste caso, sem câmera nem foto"


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